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Há hoje entre muitos gestores um discurso enviesado e perigoso. Fala-se em graduar médicos para a atenção básica, ignorando completamente que a medicina é uma ciência complexa. Que o doente é um ser humano e está sujeito a males que vão bem além das gripes e dores de barriga. Do ponto de vista da organização do sistema de assistência, a atenção básica, também conhecida como primária, nada mais é do que a porta de entrada do paciente. É onde ele deve receber informações sobre prevenção, além de cuidados para doenças mais simples. Também é a peneira que filtrará os casos corriqueiros da alta complexidade, encaminhando os últimos para a rede secundária e terciária, dependendo da situação. É, enfim, uma solução racional.

Já sob a ótica da assistência ao ser humano, tal compartilhamento não cabe. O profissional da medicina tem de estar preparado para atender um doente em todas as suas necessidades. Para tanto, precisa de uma formação integral e de qualidade, sem falar que primordialmente deve gostar de gente. Essa, aliás, é a chave da boa medicina. Jamais será bom médico aquele que vê o paciente como uma fonte de lucro, um simples número de apartamento de hospital ou um mero usuário do plano de saúde que o remunera mal. 



Atenção básica em um território tão vasto quanto o brasileiro deve contemplar de forma universal as demandas de saúde dos menos favorecidos. Mas falta tudo por aqui: relação médico-paciente, infraestrutura, medicamentos. Parece até que doente incomoda o médico; assim não recebe a assistência que deveria. Medicina exige envolvimento, amor, gostar de gente. A relação médico-paciente é o segredo para a evolução positiva de todo e qualquer paciente. Portanto, erra e errará sempre aquele que defende graduação dirigida à atenção básica. Isso foge aos princípios do humanismo; é como ver a doença sem levar em consideração que o importante mesmo é o doente. 

O paciente tem de ser atendido por um médico com formação humanística; não com aprendizagem elementar ou predominantemente tecnicista. Precisa ser examinado em sua integralidade, independentemente da queixa. Necessita de atenção total.

Atendimento básico somente é discurso vazio de quem de medicina não sabe absolutamente nada. Daqueles que preferem dividir o ser humano em classes, criando uma porta de entrada estreita para os menos apoderados economicamente, bem longe daquela que a classe A+++ terá a seu dispor para ampará-la em todas e quaisquer dificuldades de saúde. 

Essa visão nos levou ao Mais Médicos. Trata-se de um atestado público de quem não se preocupa com a saúde coletiva. Se contrário o fosse, não teríamos agora no atendimento aos mais vulneráveis socialmente mão de obra sem qualificação comprovada, como a prestada nos rincões e nas periferias do Brasil por profissionais que não se submeteram a uma prova para atestar sua capacitação.

O paciente, aqui ou em qualquer parte do mundo, merece respeito. Muito mais: merece e deve ser tratado com humanismo, além de amor e responsabilidade. 

Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica