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Realizado facultativamente de 2005 a 2011, o Exame do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo passa a ser obrigatório a partir deste ano. A expectativa dos defensores da medicina de qualidade e da assistência de excelência aos cidadãos é de que a avaliação do desempenho dos  formandos das escoas médicas em breve atravesse as fronteiras paulistas. Embora seja um bom parâmetro para avaliar a eficácia do aparelho formador, o exame ainda não poderá legalmente impedir o exercício da profissão, qualquer que seja o resultado obtido. Todos, sem exceção, terão passe livre para atuar na área que quiserem, com ou sem um título de especialista e com todo o respaldo garantido pela nossa Constituição.



Se fosse eliminatório, teríamos certamente um padrão de qualidade mínima para a prática da medicina. Para se ter uma ideia, nas sete edições anteriores, ainda que não obrigatórias, a reprovação foi de 46,7%. Ou seja, quase metade dos doutores não estava apta ao exercício profissional. Mesmo assim, hoje, clinicam em seus consultórios e integram equipes de hospitais, prontos-socorros e nos serviços de urgência e emergência de todo o país.

O ideal, aliás, seria de que essa prova teórica também fosse acompanhada de outra prática. O exame do Cremesp só teria resultado pleno se pudesse avaliar o desempenho dos novos médicos à beira do leito, na vida real, onde paciente tem nome, história e peculiaridades. Sabemos, contudo, que isso é quase inviável por sua magnitude.
Não podemos nos esquecer que formamos anualmente milhares de profissionais, número que não para de crescer devido à abertura indiscriminada de escolas e vagas de medicina.  Isso não quer dizer que devemos nos resignar.

Hoje, o fato de cursar uma boa escola de medicina, depois partir para a residência médica e, por fim, obter um título de especialista, são apenas oportunidades de desenvolver determinadas habilidades. Sobretudo as práticas, somente adquiridas em campo, na assistência aos pacientes. Estes conhecimentos não são oferecidos nas salas de aulas nem mesmo das melhores escolas médicas do mundo.

A medicina, repito, é composta de habilidade, ética e atitude, somente vivenciadas à beira do leito. É ali que são adquiridos os princípios primordiais da relação medico-paciente, do humanismo e da competência profissional. O médico só é médico diante do paciente, e não sentado à frente de um computador ou na sala de aula. Tudo isso é importante, é claro, mas o verdadeiro médico trabalha com pessoas, com o olhar, com o sentir. Precisa gostar de gente, ter currículo com formação ética, moral. Infelizmente, não é possível avaliar tudo isso em um exame teórico, mas é possível agregar valores a esta prova que já está instituída.

Um exame psicotécnico, por exemplo, seria um bom começo. Tão importante quanto responder a questões sobre a medicina é avaliar aqueles que têm ou não condições de exercer a profissão. Já utilizado em entrevistas de emprego, se bem realizado, é capaz de apontar eventual deficiência no envolvimento interpessoal, ou seja, avaliar aquele que não terá condição de manter uma adequada relação médico-paciente.

Assim, começaremos a fazer com que o Exame do Cremesp deixe de ser apenas uma prova puramente teórica, apontando, inclusive, que mesmo um aluno que conhece um tratado de medicina de ponta a ponta, capaz de receber a nota máxima em conhecimentos teóricos, não tem os atributos e experiência para examinar adequadamente um doente. Lidamos com gente, e neste ponto, todo o cuidado é pouco.

Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica