"Além de doenças coronarianas e infarto, são problemas futuros relacionados à obesidade: diabetes, hipertensão, colesterol alto, e AVC (popularmente conhecido como "derrame cerebral"), gota (elevação ácido úrico), artrose, cálculo biliar (pedra na vesícula), apnéia do sono, câncer de mama e câncer de intestino"
Estudo mostra que crianças, principalmente meninos, com IMC acima do considerado adequado para a idade, têm mais chances de problemas nas coronárias
Um estudo publicado recentemente na revista científica New England Medical Journal, da Inglaterra, aponta que crianças com Índice de Massa Corporal (IMC) considerado acima do normal têm maiores chances de contrair doenças coronarianas na idade adulta.
Percentual de crianças acometidas varia de acordo com idade e sexo
Foram pesquisadas crianças de 7 a 13 anos. Por exemplo: para eventos cardiovasculares fatais, cada aumento de 1 unidade no escore Z do IMC leva, aos 7 anos, a um aumento de 10% no risco para meninos e 7 % para meninas. Já aos treze anos o risco sobe para 24% em meninos e 23% em meninas. A diferença de idade existe porque para se ganhar 1 unidade a mais em relação ao escore Z* do IMC aos 13 anos é necessário ganhar mais peso em valor absoluto (quase o dobro) que aos 7 anos.
"Como cada vez mais crianças estão se tornando obesas no mundo inteiro, espera-se que em pouco tempo o número de pessoas com problemas cardíacos aumente significativamente", comenta o endocrinologista Dr. Frederico G. Marchisotti.
A associação entre obesidade e doenças cardíacas se mostrou mais forte entre os meninos do que em relação às meninas e ainda aumenta de acordo com a idade. A pesquisa citada não explica o por quê dessa diferença. Mas segundo o médico, até certo ponto essa diferença é esperada. "O sexo masculino é um fator de risco independente para doenças cardiovasculares, ou seja, homens estão mais sujeitos a um infarto em idade mais precoce que as mulheres", explica.
"Esta diferença só desaparece quando a mulher entra na pós-menopausa", conclui.
"Assim, meninos obesos no final da infância apresentam o maior risco", diz o endocrinologista. Além de doenças coronarianas e infarto, são problemas futuros relacionados à obesidade: diabetes, hipertensão, colesterol alto, e AVC (popularmente conhecido como derrame cerebral), gota (elevação ácido úrico), artrose, cálculo biliar (pedra na vesícula), apnéia do sono, câncer de mama e câncer de intestino.
Como evitar a obesidade infantil?
Para evitar a obesidade na fase infantil, recomenda-se a amamentação até seis meses de idade, seguida do fornecimento de alimentos adequados e estímulo à prática de atividade física prazerosa, como brincar e esportes. "Os pais devem evitar o acesso das crianças às guloseimas, para preservar o apetite nas refeições. Além disso, é recomendada a ingestão de no máximo uma lata de óleo para preparo das refeições ao mês", sugere Dr. Frederico.
Introduzir precocemente verduras e legumes à alimentação da criança para acostumar seu paladar e sua aceitação futura também pode ser uma boa solução. Para isso, indica-se diversificar a forma de preparo dos vegetais e leguminosas, oferecer os mesmos em pequena quantidade e misturados com outros alimentos de mais fácil aceitação.
A dieta deve conter todos os nutrientes: carboidratos, fibras, gorduras, proteínas, sais minerais e vitaminas, que podem ser obtidos por meio da ingestão de frutas, legumes, verduras, carne, ovo, leite e derivados, arroz, feijão, cereais. Devem ser evitados: doces, bolachas, bolos, massas, refrigerantes e sucos artificiais, salgadinhos e frituras.
Diagnóstico e tratamento
Existem alguns exames importantes para se constatar a causa da obesidade e para verificar se a o excesso de peso já provoca conseqüências adversas no organismo. São, basicamente: hormônios da tireóide (TSH e T4 livre) ; um hormônio da adrenal (cortisol); glicose, colesterol total e suas frações + triglicérides; enzimas hepáticas (TGO e TGP) que podem indicar sobrecarga de gordura no fígado. "Caso a criança também tenha estatura abaixo do normal, é importante observar se há deficiência do hormônio de crescimento, que apesar de rara, também pode acarretar excesso de peso", alerta o médico.
O tratamento da obesidade infantil deve ser baseado em alimentação correta e atividade física orientada.
*O escore Z é uma forma de se comparar o IMC em relação à média para idade e sexo através de uma tabela de valores.
Folha on-line, 14 de outubro de 2008