Artigo de Tycha Bianca Sabaini Pavan sobre pessoas que vivem com a co-infecção por Trypanosoma cruzi / HIV

Doença de Chagas

Descoberta em 1910, a doença de Chagas (DC) é causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi (T. cruzi) transmitido pelo contato com fezes ou urina de insetos infectados (barbeiros). Outras vias de transmissão podem ocorrer, como a oral por ingestão bebidas ou alimentos contaminados; via vertical; via transfusional de sangue e transplante de tecidos/órgãos; acidentes laboratoriais e; menos comumente, pela via sexual (modelo experimental). A DC acomete ~ 6 milhões de pessoas em todo o mundo. Representa a maior carga de doenças parasitárias em 21 países latino-americanos. No Brasil, estima-se que exista 1,1 milhão de pessoas nesta condição. Dados projetam uma perda anual de mais de 800.000 anos de vida ajustados por incapacidade.

O Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas da DC (2018) preconizado o emprego de dois testes sorológicos de metodologias distintas; em caso discordante, um terceiro teste deve ser utilizado para o diagnóstico, tendo como principais testes, ELISA, quimiluminescência e hemaglutinação indireta.

Aproximadamente, 60% das pessoas com DC não desenvolverão alteração clínica, sem alteração de sintomas ou sinais clínicos e eletrocardiograma e radiografia de tórax normais (forma indeterminada); até 30% poderão desenvolver alterações cardíacas; outros 10% poderão apresentar alterações digestivas como megaesôfago e/ou megacólon.

O HIV/aids

O Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para manejo da infecção pelo HIV em adultos (2024), recomenda o diagnóstico a partir da coleta de sangue venoso ou digital para realização de testes rápidos ou laboratoriais, os quais detectam anticorpos contra o HIV. Em caso confirmatório, o início da terapia antiretroviral deve ser em até sete dias após o diagnóstico, devido à redução da morbimortalidade relacionadas à aids.

A reagudização da doença de Chagas O diagnóstico deve ser realizado pela visualização do T. cruzi por microscopia direta. Os critérios clínicos que podem estar presentes são os sinais de comprometimento do sistema nervoso central ou periférico, miocardite, pericardite, paniculite, febre, adenomegalia, hepatoesplenomegalia. Para confirmação de meningoencefalite deve realizar tomografia computadorizada ou ressonância magnética, associada a coleta de líquido cefalorraquidiano. Tratamento antiparasitário – benznidazol No caso de reagudização, as pessoas devem apresentarem contagem de células T CD4+ < 200 células/mm³, com sintais ou sintomas clínicos descritos acima somando à visualização do T. cruzi. O tratamento será com benznidazol (comprimido de 100mg), na dose de 5mg/kg/dia para adultos e 10mg/kg/dia para crianças, a cada oito horas, por um período mínimo de 60 dias e possivelmente estendido até 90 dias.

No Brasil, a disparidade no acesso à prevenção, diagnóstico e tratamento ainda persiste, resultando em diagnósticos tardios, cobertura de tratamento insuficiente, dificuldade na continuidade do cuidado, consequente redução da sobrevida. Esta desigualdade reflete-se em diversos desafios enfrentados no enfrentamento da reagudização da doença de Chagas em diferentes regiões e populações do país.

*Tycha Bianca Sabaini Pavan

Possui Doutorado em Ciências (2014 - 2018) pelo depto. de Clínica Médica, com evidência no diagnóstico molecular pela falha terapêutica da doença de Chagas crônica sob regime de tratamento antiparasitário pela Unicamp / SP. Membro relatora do Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos do Instituto Gonçalo Moniz da Fundação Oswaldo Cruz - Bahia (2022 - 2026). Coordenadora Geral de Campo do projeto "Avaliação de efetividade de um teste rápido e de tratamentos para doença de Chagas: Coorte Oxente Chagas Bahia (2023 - 2026). Coordenadora da Rede Internacional de Atenção e Estudos sobre a Coinfecção T.cruzi / HIV e outras Condições de Imunossupressão (2024 - 2026).

Obs: Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião da SBCM.