O tabagismo é uma doença crônica, causada pela dependência física e psicológica da nicotina e tem relação com mais de 443 mortes por dia no Brasil (INCA). O fumo já foi símbolo de elegância, teve o consumo reduzido em meados dos anos 2000, mas voltou a ser moda entre os mais jovens com novas formas de consumo. “Apesar do cigarro não ter sido tão encarecido como ocorreu em países da Europa ou Estados Unidos, o Brasil havia reduzido muito a disseminação do tabagismo como status entre os jovens com a proibição na maioria dos ambientes fechados. Infelizmente, novos formatos de consumo, como vapes e pods têm tido novamente grande adesão e são muito mais nocivos, com procedência muitas vezes duvidosa e quase dez vezes mais nicotina no caso dos vapes ou sem filtro, no caso dos paieiros”, explica Dr. Rodrigo Paashaus, presidente da SBCM Goiás.

“As estatísticas dos ambulatórios indicam que 70% dos tabagistas só tentam parar de fumar após um infarto e costumam tentar em média sete vezes até conseguir abandonar o tabaco de vez”, conta o Clínico, que mostra seu lado humano ao contar sobre as próprias dificuldades de superação como tabagista desde a adolescência até o início da carreira como médico, tendo fumado seu último cigarro, do qual lembra até a data e o horário, há onze anos. Para manter-se longe, considera sempre que ainda não venceu completamente o vício: “se voltar a colocar um cigarro na boca, voltarei a ser fumante”.

No consultório, considera o tratamento para deixar o tabaco individual e multiprofissional, com apoio psicossocial, podendo usar medicamentos para lidar com os sintomas da abstinência ou não, de acordo com o paciente. Apesar disso, evita a reposição de nicotina com chicletes ou adesivos. “Muitas vezes, isso eleva o consumo de nicotina, trazendo náuseas e o mantendo com os maiores perigos do cigarro para o sistema cardiovascular, como a aterosclerose”, explica. Tampouco defende o “parar aos poucos”. “O organismo ‘prega peças’ e faz o paciente ter muitas desculpas para continuar no tabagismo, quando não há argumento que justifique os prejuízos à saúde. A falta do cigarro diminui a carga de serotonina e isso traz a sensação de mais desprazeres é por isso que o tabagista liga essa sensação ao controle de estresse emocional e isso não é real. Cigarro não é calmante”, alerta.

O Clínico diz que é um período complicado até deixar de sentir a abstinência do cigarro, que pode durar de dias a meses. “O primeiro sintoma é a irritabilidade, intolerância e ansiedade, podendo inclusive gerar palpitações e aumento da pressão arterial. Nos primeiros dias pode-se ter alteração do apetite, do sono, boca seca e labilidade emocional. Isso vai se atenuando ao longo dos dias, porém tudo deve ser bem controlado para não haver recaídas”, explica. Dr. Paashaus recomenda que os pacientes evitem outros prazeres que costumam associar ao fumo, como o consumo de café ou bebidas alcoólicas até se sentirem mais confiantes. A pessoa que deseja parar de fumar precisa desenvolver outros hábitos, alguns passam a beber água, outros aderem a algum esporte ou arte, como pintura ou música, tem quem se apegue à religião e há quem adquira um hábito menos saudável, como o consumo de balinhas e doces, mas o apoio dos amigos e familiares é o mais importante, de acordo com o Clínico. Sem brigar com a pessoa ou proibir o cigarro, porque pode passar a fumar às escondidas, mas sim apoiar, principalmente, com o exemplo, já que a convivência com o tabaco torna a vida de quem quer superar o vício ainda mais difícil.

“Parar de fumar não é fácil, mas é possível. As primeiras semanas são sacrificantes, mas o tempo causa um benefício enorme na diminuição da abstinência. Talvez a melhor palavra para o candidato ao abandono do tabaco é “perseverança” e a melhor palavra para se manter abstene é “resiliência”, afirma.