O conceito de parceria público-privada (PPP) na saúde nasceu envolto em ares de modernidade e compromisso social. A ideia é ofertar à máquina governamental a mesma agilidade, resolubilidade e competência que marcam as melhores instituições particulares, neste caso, mais especificamente os hospitais. Pelos princípios da cidadania e da boa gestão, temos de tratar a PPP como um novo bem da comunidade. Valorizá-la em seus pilares fundamentais: a boa gestão, a eficiência dos serviços, a excelência do atendimento e a transparência no gasto do dinheiro público.



Entretanto, como em qualquer outra área, a PPP não é imune a desvios. Importantíssimo, nessas situações, é o olhar fiscalizatório de governos, dos cidadãos e da imprensa.

Hoje, por exemplo, assistimos a certas distorções na hora de se transferir este ou aquele bem público para a gestão particular. Em vez de priorizar o bem coletivo, interesses político-partidários levam autoridades a tomar decisões tendenciosas, privilegiando indivíduos que buscam holofotes e instrumentos para amealhar riquezas.

Não podemos admitir que interesses questionáveis possam contemplar instituições privadas que não atendem de fato às demandas da comunidade. Saúde, por exemplo, é algo muito sério e jamais pode ser utilizada para a troca de favores políticos e devaneios carreiristas.

Por sorte, atualmente, graças à facilidade de comunicação, é mais difícil enganar inclusive os mais vulneráveis. A comunidade luta por transparência e para que o público continue sendo público, porém com todas as qualidades e os recursos que as instituições privadas de ponta têm.

Evidentemente que não é necessário haver luxo. Há um desperdício absurdo de dinheiro com pseudofilantropias, que na verdade encobrem o desrespeito à verba pública. Refiro-me especificamente a um hospital, desapropriado pela prefeitura após trâmites pouco esclarecidos, que estaria para ser entregue por uma quantia irrisória a um particular.

Exigimos que os gestores tenham uma visão de cidadania que contemple o coletivo. É mister que a transparência prevaleça sempre. Várias instituições públicas de ensino, com qualidade comprovada, possuem condições de contribuir para a comunidade oferecendo atenção de qualidade, alto comprometimento humanístico, além de serem destituídas de interesses pessoais eleitoreiros.

O bem público é sagrado, pois pertence a todos nós. Assim, é necessário olho vivo em certas parcerias público-privadas, para que não tenhamos prejuízos sociais e uma conta que não nos pertence a pagar.

Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica