Ser médico não se resume ao conhecimento adquirido na Faculdade de Medicina. Envolve, sobretudo, humanismo, amor à carreira, experiência adquirida no cotidiano e comprometimento com o aprendizado contínuo. A residência médica é uma oportunidade sem igual para que o graduado assuma de fato seu papel profissional, mas, para isso, é fundamental que ele seja acompanhado por preceptores qualificados e que haja infraestrutura minimamente adequada para o seu treinamento. Hoje, há propostas equivocadas para que residentes sejam encaminhados a áreas remotas do Brasil a fim de atuar sem que essas prerrogativas sejam contempladas.

Segundo o regimento da Comissão Nacional de Residência Médica do Ministério da Educação, a residência é o treinamento em serviço, com bolsa e sob supervisão capacitada, presencial. O residente já é um médico portador de inscrição no Conselho Regional de Medicina (CRM); portanto, responsável pelos seus atos. Mesmo assim, a preceptoria adequada é imprescindível.



O correto acompanhamento de um profissional em formação complementar evita possíveis falhas decorrentes da falta de preparo durante a graduação, que infelizmente tem se mostrado um tanto quanto frágil no país. Daí a necessidade de rever conceitos. 

É na residência que o recém-formado passa a tomar decisões clínicas sem ter quem confira e este é um passo importante. É a partir desse momento que percebe o peso de seus atos e compreende que está lidando com a vida. Os preceptores exercem função determinante na residência que é orientar, nortear. Não existe outra forma de se aprender medicina a não ser pelo testemunho da presença daqueles que estão ensinando.

Também é no âmbito da residência médica que os graduados estabelecem na prática a relação médico-paciente, a responsabilidade profissional, como passar notícias agradáveis e desagradáveis aos seus doentes e familiares. A residência ensina as habilidades éticas e atitudes, possibilita educação e difusão de experiências.

Depois da graduação, o médico ainda precisa de base prática, reforço teórico e até mesmo psicológico para exercer a profissão. É por isso que acreditamos que a proposta de interiorizar a medicina sem base estrutural e educacional é perigosa, postura que coloca em risco a saúde da população. É preciso cautela, não adianta correr contra o tempo para oferecer segurança ilusória à saúde pública, é mister investir mais no setor como um todo. Nesse momento crítico é importante que se vá devagar por estarmos com pressa.

Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica