Há quase 80 anos, a Escola Paulista de Medicina da Unifesp vem sendo exemplo de instituição de ensino que tradicionalmente prima pela formação de qualidade dos seus alunos.  E, a cada ano, cresce a procura por uma vaga nesta conceituada escola, tendo o candidato que se destacar – com boas notas - nas provas do rigoroso exame vestibular. Portanto, somente os mais preparados e com mais conhecimento ganham o direito de se tornarem alunos.

Ainda assim, as estatísticas indicam que muitos dos profissionais formados não estão adequados para diagnosticar e tratar com eficiência o paciente. Em 2011, avaliação do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo com estudantes do sexto ano de Medicina de várias universidades paulistas atestou que quase 50% deles não sabe interpretar radiografia ou fazer diagnóstico após receber informações dos pacientes. O baixo percentual de acertos em campos essenciais da Medicina, como Saúde Pública (49% de acertos), Obstetrícia (54,1%), Clínica Médica (56,5%) e Pediatria (59,3%) é alarmante.



Nesse sentido, uma enorme preocupação que rodeia os gestores das faculdades médicas é a abertura de grande número de vagas nos cursos de Medicina, especialmente em regiões afastadas e de difícil acesso. Estaríamos sendo ingênuos em acreditar que, no âmbito das estatísticas, uma maior quantidade de médicos formados significaria mais qualidade de atendimento para o paciente.

A Medicina, na realidade, é uma profissão diferente em inúmeros aspectos. O médico precisa ter profundo conhecimento teórico e técnico, além de uma postura humanística. Só pode ser médico quem gosta de gente. É preciso ser dotado de um certo sexto sentido para intuir como está a saúde do paciente olhando em seu olho, pegando em suas mãos. No exercício desta atividade, não há quem confira as decisões tomadas. Ninguém revisa a conduta do cirurgião que está com o abdome aberto, assim como ninguém confere a receita que o paciente leva ao sair do consultório médico. Sinal da responsabilidade deste profissional que não se encerra com a saída do doente.

Para ser médico, vejo como necessidade primordial uma vocação. Algo anterior, que vem do berço.  Nesse sentido, não basta apenas conhecimento para passar no vestibular. O ideal seria que cada um dos candidatos fosse avaliado por um exame psicotécnico que selecionasse, não só aquele que sabe mais, e sim aquele que possui as características exigidas pela profissão. Talvez dessa forma alcancemos a qualidade da qual sentimos tanta falta, principalmente com a avalanche de vagas criadas.

Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica