Está marcada para o início de setembro, em São Paulo, a interrupção do atendimento aos planos de saúde por parte dos médicos. A paralisação será por tempo indeterminado em rodízio de especialidade. Ou seja, numa semana para a Ginecologia e Obstetrícia, na outra a Otorrinolaringologia, na próxima a Pediatria e assim por diante.

Não é apenas em São Paulo que médicos lutam contra as ações abusivas de certas operadoras. Para o dia 21 de setembro, também está marcada uma paralisação nacional. Tanto os profissionais paulistas quanto os de outros estados reivindicam o fim das interferências dos planos para reduzir exames, internações e procedimentos diversos, além das pressões para acelerar altas. São pressões que colocam em risco a prática segura da medicina e a saúde dos pacientes.



Os médicos querem ainda a recomposição das perdas dos honorários dos últimos anos. A remuneração praticada por operadoras de saúde são vergonhosas, provocando, por conseqüência, queda da qualidade na assistência.  Uma consulta hoje está na média de apenas R$ 25. Um parto está na casa dos R$ 200, ou seja, uma afronta se pensarmos que nessa hora o especialista tem em suas mãos duas vidas preciosas: a da mãe e a da criança que está para nascer. Tamanho é o disparate que um fotógrafo de preço razoável cobra cinco vezes mais para registrar o parto.

As incongruências e as incoerências da saúde suplementar geram distorções recorrentes e perigosas. Ganhando mal, o médico é obrigado a acumular dois, três, quatro ou mais empregos. Alguns trabalham 50, 60, 70 ou mais horas semanais, o que vai contra a capacidade de qualquer ser humano. Assim, a medicina é exercida sempre no limite da insegurança.

Faz tempo que médicos e pacientes exigem medidas rigorosas para coibir tais abusos. As operadoras são recordistas de reclamações em órgãos de defesa do consumidor e ninguém faz nada. Os hospitais também denunciam pressões e calotes dessas empresas. Os médicos sofrem com a remuneração vil e as interferências, e a situação permanece inalterada.

É por conta dessa omissão que médicos foram praticamente obrigados a recorrer a um movimento público de alerta. A população será preservada, pois o atendimento de urgência e emergência está garantido. As consultas e demais procedimentos serão remarcados, conforme orientação das entidades.

A possibilidade de caos no setor, entretanto, exige rigor por parte das autoridades competentes. A saúde suplementar não pode continuar sendo terra de ninguém. Médicos e pacientes exigem respeito já.

Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica