O Brasil precisa de bons médicos. Necessita, simultaneamente, de uma política de saúde consistente com foco na resolução dos problemas mais prevalentes na nossa população. Enquanto uma só das pontas da assistência permanecer desalinhada, seguiremos amargando mazelas e sujeitando os cidadãos a um atendimento desqualificado e desumano. Pior, não avançaremos no tempo; continuaremos a exibir índices de quarto mundo em doenças como dengue, tuberculose, leshimaniose, hanseníase, entre outras.

É essencial, em primeiro lugar, deixar de lado a mentalidade subdesenvolvimentista. O Brasil é o Brasil. Não é a Espanha, não é a Inglaterra, não é os Estados Unidos. Portanto, devemos respeitar nossas peculiaridades e criar soluções adequadas às nossas carências e realidade.

Veja o que ocorre, por exemplo, no campo das especialidades médicas. Ainda hoje, há falsos gurus pregando que o remédio para nossa saúde é copiar a organização européia ou americana que segue na linha de quanto mais especialidades melhor...

O Brasil precisa de bons médicos. Necessita, simultaneamente, de uma política de saúde consistente com foco na resolução dos problemas mais prevalentes na nossa população. Enquanto uma só das pontas da assistência permanecer desalinhada, seguiremos amargando mazelas e sujeitando os cidadãos a um atendimento desqualificado e desumano. Pior, não avançaremos no tempo; continuaremos a exibir índices de quarto mundo em doenças como dengue, tuberculose, leshimaniose, hanseníase, entre outras.

É essencial, em primeiro lugar, deixar de lado a mentalidade subdesenvolvimentista. O Brasil é o Brasil. Não é a Espanha, não é a Inglaterra, não é os Estados Unidos. Portanto, devemos respeitar nossas peculiaridades e criar soluções adequadas às nossas carências e realidade.

Veja o que ocorre, por exemplo, no campo das especialidades médicas. Ainda hoje, há falsos gurus pregando que o remédio para nossa saúde é copiar a organização européia ou americana que segue na linha de quanto mais especialidades melhor.

Felizmente, não sobrou aos mesmos muita margem de manobra. Faz alguns anos, a Associação Médica Brasileira, o Conselho Federal de Medicina e a Comissão Nacional de Residência Médica do Ministério da Educação promoveram uma revisão geral das especialidades médicas no país.  Na ocasião, foram reconhecidas oficialmente apenas 54 sociedades médicas. Era ainda diretor da AMB quando iniciamos esse redesenho e instituímos as habilitações, que, mais tarde, viriam a ser denominadas áreas de atuação. Foi um verdadeiro marco histórico no associativismo brasileiro.

Todas essas mudanças tiveram importantes reflexos na prática médica e na academia, além de contribuírem para a racionalização dos currículos e para a melhoria dos processos de formação. Enfim, a partir de então, as especialidades passaram a responder de forma mais adequada às problemáticas de saúde dos brasileiros.

Organizamos, em outras palavras, uma estrutura condizente com o Sistema Único de Saúde (SUS). Não dá para seguir fórmulas prontas de nações distantes para tratar de pacientes com males endêmicos do Brasil - esquistossomose ou doenças tropicais, por exemplo.

Quem prega o contrário parece, no mínimo, ter certa dificuldade de se livrar de um sentimento de inferioridade em relação a outros países, o qual não temos motivo algum para alimentar.

Quando se fala em especialidades médicas é preciso que se compreenda que devem ter como foco o doente e não a doença. Para tanto, volto a frisar, necessitamos de profissionais de medicina bem formados e informados, não apenas titulados com diplomas que, em regra, representam reserva de mercado. Sua revalidação, aliás, precisaria ser revista, pois os critérios apresentam inúmeras distorções. O fator econômico é, infelizmente, o que tem sido mais contemplado e, portanto, fica difícil a atualização de quem registra o diploma e depois escurece o corpo sem clarear a mente.

Nesta linha de raciocínio é mister entregar os destinos da saúde a quem disso entende. É um absurdo, por exemplo, o Ministério da Saúde falar, por intermédio de não médicos ou de bacharéis de medicina, que defende a formação de médicos para o SUS.

Não há médicos para o SUS, para a medicina suplementar ou para hospitais de excelência. É inadmissível pensar assim. Há, pura e simplesmente, médicos. Todos eles devem ter qualidade máxima para assistir adequadamente aos cidadãos, sejam carentes, de classe média ou mais abastados. Está na Constituição Federal: saúde é direito de todos e dever do Estado.

O mesmo vale para as especialidades médicas: não necessitamos de novas, e sim, de áreas de atuação. Os que vão na contramão dos interesses da sociedade querem formar médicos com competência questionável, mas procuram os melhores profissionais, segundo uma ótica frequentemente míope, para cuidar de si e de seus familiares.

Antonio Carlos Lopes é Presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica

Artigo publicado em 17/06/2010 no Correio Popular

Artigo publicado em 17/06/2010 no Jornal do Commercio