Boa medicina não muda com o tempo

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Antonio Carlos Lopes

Resumo

Há menos de uma semana, participei de cerimônia da AMSP (Academia de Medicina de São Paulo). Assisti a uma solenidade memorável, comovente, que marcou a diplomação de membros eméritos, além da posse de titulares e honorários. Médicos brilhantes dos quais sou admirador, de todos eles.


Cá entre nós, mesmo sem saber se tenho tal merecimento, fui, também, diplomado membro emérito da AMSP, após completar um ciclo de 20 anos como titular. Em certo momento da cerimônia, pedi a palavra para discorrer sobre a responsabilidade e a ética dos médicos, a importância da ciência e da assistência à beira do leito, focada 100% no paciente. Esses são valores que pautam meu dia a dia profissional desde 1970 quando me graduei pela Escola Paulista de Medicina (EPM), hoje, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Aliás, a mesma instituição de ensino em que cursei a residência e na qual dediquei-me à carreira universitária por décadas.


Diferentemente do que pregam os tecnicistas, aqueles que adorar pedir exames e nem olham ao paciente a sua frente, a boa Medicina não muda com o tempo. A base ético-moral é sempre a mesma: o humanismo, a busca de saúde ao próximo.


É evidente que a prática da Medicina no Brasil fica cada vez mais difícil a cada dia, por conta de uns e outros. Seja na rede pública ou privada, os problemas são recorrentes e parece faltar vontade política das autoridades de plantão para enfrentá-los e buscar solução.


Planos de saúde pressionam médicos a reduzir procedimentos e pedidos de exames muitas vezes essenciais à boa assistência. O Sistema Único de Saúde, perfeito, no papel, permanece há anos à beira do caos. Carece de investimento, oferecendo aos cidadãos um cardápio de dificuldades: a espera por consultas só aumenta, há carência de leitos, de insumos básicos e de recursos humanos, entre outras. O próprio ensino da Medicina caminha na contramão do bom senso. A formação não visa à qualidade de vida das pessoas. Longe disso. Escolas médicas são abertas sem qualquer critério, sem a mínima base ao aprendizado. São maus empresários que só querem ganhar dinheiro com a “Educação” sem qualquer contrapartida.


Precisamos abrir os olhos e todos devemos compreender que é obrigação se contrapor à inversão de princípios. Na saúde, aliás, como em todos os campos, a competência,a dignidade, a honestidade e a transparência têm de ser regra.


Apenas com essa visão e com muito trabalho iremos mudare conseguiremos deixar de ser um país promessa e nos tornar uma grande nação.

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Editorial