Humanismo e bem-estar. Esses dois termos fazem parte do conjunto de qualidades e habilidades que a prática médica exige. Um bom médico não renuncia à anamnese apurada, a ouvir atentamente o paciente, a investigar e realizar um exame físico minucioso. Aliás, investir tempo em conversa com o paciente é a garantia de um bom diagnóstico.

Em todos esses momentos, o foco tem de ser baseado em condutas visando à saúde e qualidade de vida do cidadão. São premissas essenciais à Medicina e fundamento do juramento de Hipócrates.



Atualmente, somos vítimas do abuso das ferramentas tecnológicas. A solicitação de exames é exagerada, causando desperdícios ao sistema. Os médicos são impingidos por hospitais a adotar protocolos equivocados, que fazem mais mal do que bem aos pacientes.

Alguns bons profissionais protestos, mas há também os que se omitem e entram no jogo das instituições. São o joio da Medicina. 

Sacramentados indiscriminadamente na rede hospitalar, os protocolos impõem condutas, exames e avaliações desde a entrada do paciente, mirando a maximização do lucro. Em outras palavras, a saúde já não é o eixo principal.

O mercantilismo tornou-se motivação de certas instituições, os pacientes transformaram-se em simples peças para gerar dinheiro.

Assim, os princípios da Medicina são atacados frontalmente. O saldo desse cenário são até óbitos originados pela carência de análise clínica, em situações que se priorizam os interesses de poucos, ao invés da vida humana.   

É cada vez mais comum nos deparar com médicos seguindo protocolos sem pé nem cabeça e custosos sem contestá-los. São os profissionais sem formação suficiente, certamente graduados em uma das péssimas faculdades que vemos surgir dia após dia em tudo quanto é esquina do País.

Temos urgência de medidas rigorosas para fechar escolas médicas sem estrutura adequada, desprovidas de corpo docente de excelência e puramente mercantilistas. Há vidas em perigo, tratamentos retrocedendo, prejuízos ao SUS e à rede suplementar.

Um profissional de excelência forma-se à beira do leito, recebendo de seus mestres saberes de relevância e o testemunho. Ao se afastar desse caminho, abre-se portas ao erro e ao malfeito, como pode ser observado nesta era de ostentação da tecnologia e de protocolos abusivos.

Saúde é coisa séria. A prática médica exige raciocínio clínico, dedutivo e hipotético; qualquer tentativa de inversão de valores precisa ser combatida.

Cada paciente deve ser tratado, analisado e encarado de forma única. As pessoas são diferentes umas das outras e a individualidade é um bem precioso. Portanto, nessa área, o médico é e sempre será soberano.

Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica.
Artigo publicado em 13/01/2020 no Diário do Grande ABC