Desde que a Covid-19 chegou no Brasil, enfrentamos, além da maior e mais complexa pandemia de toda a sua história, a ‘infodemia’. A OMS (Organização Mundial da Saúde) utilizou o termo para se referir ao bombardeio de informações muitas vezes (e na maioria delas) falsas e manipuladas, às quais a população está submetida diariamente.

As fake news não são novidade nem exclusividade de um grupo ou outro. No campo político, são fartamente utilizadas para manipular pessoas/eleitores; e todos os dias ouvimos denúncias sobre isso. Na própria área médica, sofremos com esse grave problema. Em disputas recentes por diretorias de nossas associações, conselhos e sociedades de especialidade, são recorrentes a utilização de fake news para macular imagens e manipular quem tem direito a voto.



Curioso é que é sempre o mesmo grupo que recorre a elas. E isso já ocorre há anos e mais anos, só que muitos médicos ainda cobram gato por lebre. São fatos preocupantes. Mas, durante a atual crise mundial da saúde, são mais perigosas. Enquanto nós, profissionais da saúde, nos esforçamos para atender a demanda cada vez maior de pacientes contaminados, sete em cada dez brasileiros são enganados por notícias falsas sobre a pandemia todos os dias, especialmente através das redes sociais.

As fake news popularizam-se pelo aspecto emocional. Frente ao medo e às incertezas às quais estamos vivendo, qualquer notícia que ofereça segurança e conforto ganha rapidamente a adesão da população. Entre os maiores absurdos que surgiram na mídia recentemente, estão remédios caseiros para combater a Covid-19 e a possibilidade de transmissão da doença por pernilongos, só para citar alguns.

Nesse cenário de fragilidade, indivíduos mal-intencionados se aproveitam para impulsionar tratamentos ditos milagrosos, medicamentos sem eficiência comprovada e projetos de vacinas misteriosos. Muitos deles envolvidos em projetos políticos, econômicos e ideológicos. Ao criar essa condição de desinformação, levando pessoas a seguir notícias falsas, em vez da ciência, colocam-se vidas em risco.

A baixa adesão dos brasileiros ao distanciamento social é uma das consequências das fake news. Mesmo que reforcemos a necessidade médica da quarentena e do isolamento, seus autores insistem em colocar essas práticas em dúvida na mentalidade popular. Assim, os números de casos crescem, os hospitais ficam sobrecarregados e o retorno à normalidade parece um sonho sempre distante.

Como profissionais da saúde, somos essenciais no combate à pandemia e também à ‘infodemia’. Somos responsáveis pela mediação entre o que a ciência atesta e o que é divulgado na imprensa ou em redes sociais. Precisamos recuperar, e logo, a confiança da população em veículos de imprensa credíveis e órgãos oficiais de saúde por meio de informações sérias, fundamentadas e de fácil compreensão.

A histeria provocada pelas fake news é a última coisa que precisamos neste momento de crise sanitária. Já para os autores dessas falsas notícias, há remédio. Considerando tratar-se de crime, o mais indicado é a cadeia.