É ano de eleição. Já vemos a disputa pelo poder ganhar destaque na TV, rádio, internet e em todos os meios de comunicação. Está aberta a caça ao voto.

 

Não há dúvidas de que o ex-ministro da Saúde e pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha, usará diversas vezes o nome do “Programa Mais Médicos para o Brasil” em suas aparições de campanha.

 

Será um caso típico em que o feitiço poderá voltar-se contra o feiticeiro. Afinal, o “Mais Médicos” não passa de um falso remédio para o Sistema Único de Saude e, sobretudo, um engodo eleitoreiro.

 

Verdade seja dita: a saúde não se faz só com atenção básica. Algumas características deste Programa provam que o Governo Federal não está tão preocupado com a qualidade da assistência médica prestada aos cidadãos. Uma delas é a vinda de profissionais estrangeiros sem a revalidação de diploma, ou seja, sem a garantia de conhecimento da medicina.

 

Aliás, a iniciativa mascarada de boas intenções cria duas medicinas no Brasil: uma para os pobres e outra para os ricos. Enquanto o povo é atendido em situações precárias, os mais abastados recebem tratamento com tecnologia de ponta.

 

Baseado na minha experiência profissional e nos aspectos clínico e educacional da medicina, posso dizer com segurança que a formação do médico está muito além do atendimento básico. É fundamental que o profissional se renove constantemente, sempre se atualizando, e tenha à sua disposição a infraestrutura necessária para trabalhar de forma digna. O médico nunca se forma, apenas se gradua. E por isso devemos nos preocupar com a educação médica e não somente com a escolaridade. Educação é a formação integral do indivíduo, tanto humana, quanto profissional. Já a escolaridade é a simples transmissão do conhecimento de forma puramente técnica. O que conta é adquirir uma valiosa bagagem ética e saber dar importância à relação médico-paciente.

 

É interessante frisar o óbvio: o doente é mais importante que a doença. Portanto, precisamos investir em uma assistência cada vez mais humana e não apenas elementar ou predominantemente tecnicista. O paciente deve ser examinado no seu todo independentemente de queixa. E não é isso que acontece quando propomos o atendimento básico.

 

A humanização e a relação médico-paciente, aliados à boa formação médica e à infraestrutura mínima necessária, nunca serão vencidos pela tecnologia avançada. Paredes bonitas e equipamentos de ponta não curam doentes. A cura é prerrogativa do médico, quando goza dos seus sentidos, e se utiliza do exame clínico e da tecnologia em busca do diagnóstico preciso e adequado.

 

Para dar um exemplo prático, um jovem chega ao consultório com muita dor de estômago. O médico integrante do “Mais Médicos”, em uma região afastada do Brasil, sem a infraestrutura adequada para prestar atendimento e realizar exames, corre risco de fazer um diagnóstico errado. Resultado: em vez de ser detectado um possível tumor gástrico, o paciente vai para casa com algum remédio paliativo. Começa então um trágico caminho que pode terminar em morte.

 

Por tudo que foi exposto, não nos deixemos enganar quando os marqueteiros políticos começarem a agir para abrilhantar o capenga “Programa Mais Médicos”. A solução está em investir o dinheiro público em reformas efetivas nas instituições de saúde do interior do Brasil e compra de materiais médicos de uso diário. Se houvesse condições mínimas para que os médicos (brasileiros ou estrangeiros) pudessem atender bem nesses lugares, não faltariam médicos.

Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica