Recentemente, uma resolução governamental instituiu um bônus para acesso aos programas de residência médica aos graduados que prestarem serviço ao Programa Saúde da Família (PSF) em áreas remotas. O bônus varia de 10 a 20%, criando inadmissível distorção na disputa por vagas. Para o exercício de uma medicina de qualidade, o profissional deve se submeter a diversas etapas da formação, incluindo a residência médica que é fundamental. No entanto, o sonho de muitos egressos está sendo prejudicado devido ao fato de o governo de oferecer o bônus do Provab.

Este programa teoricamente foi idealizado para fazer com que as cidades que não possuem médicos consigam contratar profissionais. Mas acaba falhando em vários pontos. Para começar, os recém-formados adentram o mercado para trabalhar sem supervisão. Não existe definição de salários a serem praticados pelos prefeitos. Também não cria uma estrutura adequada à assistência oferecida aos pacientes.



Especificamente em relação ao bônus, em simulação realizada por uma importante escola médica, verificou-se que um candidato estando em 16º lugar como excedente, passou a ocupar o 2º lugar na lista dos classificados, devido ao acréscimo na nota. Essa medida evidentemente vai contra a meritocracia característica do meio acadêmico.

Incentivar a participação do médico no Programa Saúde da Família é uma atitude válida, mas para levá-lo a locais carentes é preciso que haja, antes de tudo, a infraestrutura adequada e condições dignas de trabalho.

Vendo a questão por outro viés, não é justo para a população que suas Unidades de Saúde sejam servidas por apenas profissionais recém-formados, com pouca experiência e sem especialização. O problema da saúde pública não se sana do dia para a noite, é primordial que haja investimentos concretos no setor como um todo. Médico sozinho, sem o mínimo de infraestrutura e com formação inadequada não faz milagre e não cumpre com os objetivos básicos da Medicina que, além dos aspectos técnicos, envolve humanismo, ética, moral e atitudes. Não adianta cobrir um santo e deixar o outro descoberto.

Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica