Principal preocupação dos brasileiros em pesquisas de diversos institutos de opinião, a saúde no Brasil é vítima de algo inédito em termos políticos. Ouso, então, batizar esse algoz da assistência aos cidadãos de “compromisso às avessas”.

Se puxarmos pela memória, ao menos nas cinco últimas campanhas eleitorais, a saúde foi a principal estrela. Candidatos para todos os gostos (ou desgostos) usaram-na para galgar degraus, chegando a prefeitos, governadores e até à Presidência da República.



Fosse de fato tratada como prioridade, fossem as promessas de campanha cumpridas, certamente não teríamos no Brasil mais ninguém sofrendo com longas filas para o atendimento, demora na realização de exames, falta de vagas nos hospitais e de remédios, entre tantos outros males que atingem nosso cotidiano. Entretanto, é aí que entra em campo o “compromisso às avessas”.

Faz anos, políticos de todos os partidos falam sobre a insuficiência de recursos na saúde. Todos também sempre se mostraram favoráveis à regulamentar a Emenda Constitucional 29 (EC 29), de forma a ampliar os investimentos para a assistência.

A realidade, contudo, passa longe. No término de 2011, os senadores tiveram a oportunidade de transformar em prática seus discursos quando da votação da EC 29. Só que fizeram justamente o contrário, aprovaram um substitutivo que não trouxe um só novo centavo para o setor.

Caso tivessem optado pelo projeto original do senador Tião Viana, a saúde teria, já nesse ano, novos R$ 35 bilhões. Menos do que o ministro Alexandre Padilha considera necessário – R$ 45 bilhões -, mas uma boa injeção de recursos.

Para piorar, recentemente, o governo federal realizou um contingenciamento no orçamento de 2012. O corte foi da ordem de R$ 55 bilhões. A saúde foi a maior prejudicada, perdendo R$ 5,4 bilhões. Apesar disso, felizmente podemos contar com um ministro que é médico, de excelente formação sólida e humanística. Esperamos que não recaia sobre ele o ônus dos recursos cortados.

Estamos em ano eleitoral e é hora de darmos resposta adequada a esse desrespeito. Como falamos de saúde, vamos aproveitar e prescrever o remédio para o bem do Brasil. Pesquise seus candidatos, veja as promessas que fez em pleitos anteriores e avalie sua postura ao longo dos anos seguintes. Se, por acaso, perceber que pertence à bancada do “compromisso às avessas”, risque-o de seu caderninho. É o caminho para limpar o universo político do Brasil e para melhorar realmente a vida dos cidadãos.

Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica