Diversos problemas de saúde começam pela boca. Ou por meio dela é que aparecem os primeiros sinais de alerta. As cáries são as mais frequentes. No Brasil essa doença atinge cerca de 60% das crianças com até 5 anos de idade, conforme informações do Ministério da Saúde. Aos 12 anos, a média é de 2,8 dentes cariados, perdidos ou obturados. Entre adultos, o número é superior a 20; nos idosos, próximo de 30.

Os dados eram ainda mais alarmantes até 1974. A partir daí, a legislação do país passou a exigir a fluoretação das águas de abastecimento; também se intensificaram as campanhas de conscientização da população e a aplicação tópica de fluoreto de sódio.

Mas os perigos da cárie vão muito além da dor de dente e do mau hálito. Uma cárie não tratada pode trazer consequências sérias para a saúde em geral. As bactérias que se proliferam em uma boca que não recebe a higiene correta podem atingir o sistema vascular e, por meio da corrente sanguínea, circular por todo o corpo. Esses microorganismos, em alguns casos, podem chegar ao músculo cardíaco e causar uma endocardite infecciosa, ou seja, uma infecção na valva cardíaca. Os sintomas são febre alta, cansaço, freqüência cardíaca aumentada, perda de peso, sudorese e anemia. Essa doença é grave e deve ser tratada o quanto antes com internação e altas doses de antibióticos por períodos prolongados. Sem isso, o paciente terá complicações mais sérias, como insuficiência cardíaca, insuficiência renal e, em casos mais extremos, poderá até chegar ao óbito.

Outro problema bucal importante é a doença periodontal, infecção bacteriana que provoca inflamação das gengivas e do osso que dá suporte aos dentes. Ela causa o amolecimento e a perda desses dentes, especialmente entre pessoas com idade mais avançada. É uma das grandes causas do aumento progressivo do número de implantes dentários.

Não podemos deixar de considerar o câncer de boca, que inclui lábios, mucosa bucal, gengivas, palato duro, língua e assoalho da boca. A grande maioria dos casos acomete principalmente tabagistas e os riscos aumentam quando o fumante é também alcoólatra. A má higiene bucal e uso de próteses dentárias mal-ajustadas também predispõem ao problema.

Em caso de aparecimento de feridas que não cicatrizam em uma semana, manchas esbranquiçadas ou avermelhadas, dificuldade para falar, mastigar e engolir, além de emagrecimento acentuado e dor, procure um especialista.

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), só em São Paulo são cerca de 16 casos de câncer da cavidade bucal a cada 100 mil homens e uma média de 4,75 casos a cada 100 mil mulheres. O índice é um dos mais altos do país, atrás apenas do Rio de Janeiro, que tem mais de 19 casos desse tipo de câncer a cada 100 mil homens e em torno de 6,26 casos entre as mulheres. 

Portanto, cuidar da saúde bucal é extremamente importante para evitar doenças sérias que podem atingir todo o organismo. Não deixe jamais de realizar a higiene completa da boca conforme orientação de seu dentista. Escovação correta três vezes ao dia, uso de pasta e escova adequados, substituição da escova de dente a cada três meses, uso do fio dental antes da escovação e visitas periódicas ao dentista são fundamentais. 

Prof. Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica

Artigo publicado no jornal Repórter Diário dia 22 de junho de 2009