Hospitais lotados, filas de esperas intermináveis para uma simples consulta, pacientes em estado grave aguardando leito, falta de medicamentos, recursos do Sistema Único de Saúde congelados pelos próximos 20 anos. Você diria que chegamos ao pior dos mundos quando o assunto é assistência aos brasileiros? Se a resposta foi sim, está enganado. A situação tende a piorar (e muito) se depender das intenções atuais do Governo Federal.

Sinto-me na obrigação de vir a público alertar sobre a iminente ameaça representada pelos planos de saúde de cobertura restrita, marqueteiramente batizados de planos “populares” pelo governo, atualmente em análise na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). São um retrocesso inadmissível à Lei 9656/98, que garantiu cobertura integral aos pacientes.



Resultado natural da falta de transparência com que o projeto foi elaborado, já que, inicialmente, apenas representantes das operadoras de planos de saúde participaram dos debates, a iniciativa só traz desvantagens aos pacientes/consumidores. A diminuição do rol de cobertura, o aumento dos prazos para agendamento de consultas e para o acesso a procedimentos, a exclusão de tratamentos de alta complexidade, urgências e emergências e hospital dia, e a liberação dos reajustes para os planos individuais são alguns dos itens que claramente desfavorecem a população, cada vez mais carente de um bom atendimento em saúde.

Diz o poder público que o SUS seria aliviado com os “planos populares”. Com base no conhecimento social da medicina, discordo. O que tais produtos se propõem a fazer é somente cobrir procedimentos básicos, de caráter ambulatorial, ou seja, a atenção primária. O caro mesmo, a alta complexidade, será jogada inteiramente para a responsabilidade do Sistema Único de Saúde, já padecendo de inanição de recursos.

Em outras palavras, as empresas “cuidarão” dos saudáveis. Os doentes deverão ter tratamento custeado pelo Estado. Quem pagará essa conta? Todos nós, inclusive os que engrossaremos as filas nos hospitais públicos.

Acima de quaisquer questões econômicas, quero debater o direito do ser humano de receber um atendimento médico de qualidade independentemente de seu estado físico e de sua situação financeira. Essa proposta é um desrespeito, pois levará muitos inocentes a acreditarem que estarão cobertos com seu plano, e posteriormente se surpreenderão ao perceberem que o amparo é apenas parcial, o que certamente dará margem à carência de um ou de outro serviço de saúde, ou de vários.

Diante desse cenário assustador que se desenha, juntamo-nos a outras entidades de credibilidade e representatividade como Conselho Regional de Medicina de São Paulo (CREMESP), Associação Paulista de Medicina (APM) e Sindicato dos Médicos de São Paulo (SIMESP), entre tantas outras, para reforçar o “NÃO” aos planos de cobertura restrita. Junte-se a nós. Cuide com amor de sua saúde e da saúde do Brasil.

Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica