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Foi-se o tempo em que a medicina era vista também como um importante compromisso social. Há muitos e muitos anos, quando alguém se dispunha a estudar para se tornar um médico, o sonho era servir ao próximo, melhorar a qualidade de vida das pessoas e, consequentemente, ajudar a criar um mundo mais digno.   O mesmo ocorria com a abertura de escolas de medicina. Elas eram criadas pensando no bem-estar da comunidade. Graduar um médico era uma ação séria e intimamente direcionada ao benefício coletivo, contribuindo para a promoção da saúde.   De 1500 a 1999, o Brasil criou 106 cursos de medicina. A maioria com estrutura necessária à boa formação. Ocorre que empresários da educação e políticos de repente perceberam um filão de prestígio e riqueza. Resultado: nos últimos 14 anos foram abertas mais 136 faculdades médicas. Hoje, temos 242.   Forma-se de olho na quantidade e não na qualidade. Caberia ao Estado fiscalizar os abusos e colocar ordem na casa. Acontece ao contrário. Só para ter uma ideia do despropósito, semanas atrás, o Ministério da Educação (MEC) autorizou a abertura de mais algumas dezenas de faculdades de medicina. É lamentável, pois demonstra que o conhecimento sobre o ensino médico passa muito longe de quem apregoa a abertura indiscriminada de escolas médicas, cujo interesse não é motivo para abordarmos neste texto.   Assim, desde então, 39 municípios estão liberados para criar cursos médicos; 14 deles em nosso estado, São Paulo. Outras sete cidades também receberam aval para ter suas próprias escolas de medicina, desde que obedeçam a pequenas adequações solicitadas pelo MEC.   O Governo afirma que temos um número insuficiente de médicos e vai formando aos borbotões. É a famosa frase: ao estar com dor de cabeça, corta-lhe a cabeça. Presta-se, então, um desserviço à sociedade. Do que adianta termos médicos aos montes se a formação é ineficiente? Se não houver professores capacitados, preceptoria apropriada e recursos estruturais satisfatórios será impossível formar bons profissionais.   O médico, mesmo com uma formação de excelência, não consegue realizar curas milagrosas. A saúde é feita com o uso de equipamentos, exames, infraestrutura hospitalar, equipe multidisciplinar. Trata-se de um conjunto. É lamentável como o Estado se abstém do seu dever de investir em melhorias nas unidades de saúde, usando os profissionais como bodes expiatórios de sua incompetência.   A imprudente autorização de graduações de medicina penaliza os estudantes, que, inocentes, chegam a pagar até R$ 9 mil mensais em instituições privadas para obter uma formação precária – obviamente, aqui o foco é o somente lucro. Além de prejudicar ainda mais o cidadão, que sofrerá na pele os danos da assistência medíocre. Não conhecemos nenhuma escola a ser aberta em que o interesse não seja político, econômico e de promoção de diretores incompetentes.   A proposta do Governo é aumentar em 65% o número de vagas em medicina até 2017. O problema é que os novos cursos previstos no programa Mais Médicos aceitarão docentes sem mestrado ou doutorado, visto que há um déficit de professores. Será o desqualificado transferindo seu desconhecimento aos pobres acadêmicos.   Claro que tamanha irresponsabilidade tem reflexos imediatos. A edição 2013 do exame do Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo), mesmo com perguntas de práticas clínicas extremamente básicas, reprovou 59,2% dos 2.843 médicos recém-formados em São Paulo. O alto índice de reprovação demonstra que os profissionais estão saindo despreparados das faculdades, e, já que a prova não é eliminatória, em breve estarão atendendo a você em consultórios e hospitais.   Cuidado. A luta contra a abertura irresponsável de escolas deve ser de todos nós. Afinal, não podemos correr o risco de ser a vítima da falta de juízo de autoridades e da ganância de certos empresários da educação e da saúde, em particular os diretamente vinculados a hospitais de butique que primam pela competência na busca do enriquecimento.   Antonio Carlos Lopes, Presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica.