Entra ano, sai ano, a saúde segue – sempre! – como uma das principais preocupações do brasileiro. Não dá para ser diferente. Afinal, a rede pública é subfinanciada, sofre com má gestão e oferece mais dificuldades do que facilidades a quem necessita de atendimento.

O resultado, todos sabemos: a maioria da população padece em filas por consulta, demora meses (até anos) para conseguir uma internação, sofrendo ainda com a falta de medicamentos, estruturas sucateadas, entre outras mazelas. Daí explicasse o fato de um plano de saúde ser um sonho de consumo, em especial para os cidadãos mais vulneráveis socialmente. Se fizermos uma enquete em hospitais do sistema único, confirmaremos que milhões almejam uma assistência com mais possibilidades de acesso, resolutiva e sem sobressaltos para eles e seus familiares.

Aliás, muitos dos nossos compatriotas já se viram nos 30 para pagar um plano, pois pensam, por exemplo: “Se meu filho adoecer, terá uma assistência de qualidade, bons hospitais, exames”. Quem dera. A verdade nua e crua é que faz anos o sonho ganha feições de pesadelo.

De uma década para cá, no mínimo, diferentes pesquisas da APM (Associação Paulista de Medicina), encomendadas aos principais institutos de opinião do Brasil, confirmam que o slogan de uma antiga campanha publicitária (de denúncia) permanece atual, infelizmente: “Há planos de saúde que enfiam a faca em você e tiram o sangue dos médicos”. Os profissionais de medicina denunciam recorrentemente pressões das empresas para reduzir a solicitação de exames e procedimentos, para evitar internações e para antecipar altas.

O lucro, e não a saúde, é prioridade para certos planos. O quadro já preocupante e tende a se agravar. Duas semanas atrás, as empresas apresentaram com pompa e circunstância, no Distrito Federal, um documento com propostas para mudar a legislação, que, até o momento, ainda garante cobertura mínima para os pacientes. Querem modificar a Lei 9.656, de 1998, para explorar novas modalidades no mercado. A ideia é comercializar planos payper-view, ou miniplanos, como vêm sendo chamados. Esses produtos dariam direito à segmentação da saúde suplementar. Assim, passariam a ser vendidas modalidades para consultas, outras para internações, outras para um tipo de especialista e coisas assim. Absurdo total. Ser humano não pode ser fatiado. Não existe saúde pela metade.

Um médico, ao receber um paciente, não pode deixar de solicitar exames essenciais, em virtude de o plano não cobrir e de a pessoa não ter condição de ir à rede privada. A Sociedade Brasileira de Clínica Médica e outras 36 instituições, entre as quais a defesa do consumidor, a Ordem dos Advogados do Brasil, o Ministério eaDefensoria Públicas, a APM, o Idec e dezenas de especialidades médicas posicionaram-se imediatamente contra essa propositura.

A cada dia chegam novas adesões ao grupo batizado de Frente Contra os Ataques dos Planos de Saúde. Você consegue se imaginar em um plano que oferece internação, mas não UTI, caso sofra uma intercorrência grave? Que cubra o ginecologista, mas não dê acesso ao parto? Isso não existe. Existe um blog para aqueles que desejaram se unir nesse protesto. O endereço é www.frentecontraataquesplanos.com.br. Junte-se a nós por mais saúde a todos os brasileiros.


Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica