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Dedicar-se a ganhar a confiança do paciente não é perda de tempo. Muito ao contrario, é o único caminho honesto para quem pratica a boa medicina. Se não for pela trilha do humanismo, diagnóstico algum será bem feito. 

No Brasil, infelizmente, não são bem assim que as coisas funcionam. Boa parte dos médicos, até hoje enxerga aquele que esta do outro lado da sua mesa de consultório ou em uma cama de hospital simplesmente como cliente. Na maior parte das vezes nem ao menos sabem o nome de quem está tratando. 

Diversos chegam a chamar o doente pelo numero do quarto, pela marca da carteirinha de plano de saúde ou coisas do gênero. Péssimo e inaceitável. 



Sou de um tempo em que medicina era realmente um compromisso de fé. À época, os profissionais conheciam os pacientes e seus familiares, sendo a recíproca verdadeira. 

Para nós, os mais antigos, nada têm mais relevância do que a medicina à beira do leito. A única forma de se obter resultado efetivo na assistência é caminhando por uma estrada que passa pelo olho no olho, pelo toque, pela conversa realmente interessada e, obrigatoriamente, por gostar de gente. 

Não quero em momento qualquer carimbar o médico com a marca de algoz de todos os problemas de saúde do Brasil. Ele não o é, de fato. Hoje é sim vítima de circunstâncias, de seguidos maus governos e de políticos irresponsáveis. 

Das novas faculdades, saem cerca de 60% dos recém-graduados sem formação para o adequado atendimento ao paciente. Seguidos exames realizados pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo atestam que uma quantidade impressionante mal presta para cuidar de gripe ou dor de barriga. 

A falha é certamente do processo e de maus empresários da Educação, que só focam o enriquecimento fácil. O problema é o saldo: são várias vítimas em um só pacote, como o estudante, que paga mensalidades caríssimas e vê seu sonho de ser médico usurpado; além dos cidadãos que um dia serão atendidos de forma incompleta e certamente correrão riscos importantes. 

Muitos políticos podem ser responsabilizados por tal ordem (ou desordem), pois cedem vergonhosamente ao lobby de impérios do Ensino. Aliás, a mesma lógica funciona quando parlamentares tentam aprovar leis que prejudicam pacientes de planos de saúde, que tiram dinheiro do SUS, entre outras. Sempre há algo mal explicado por trás. 

A legalidade em todas essas questões é somente detalhe. Usam Lei para isto, para aquilo, mas não significa que estejam agindo dentro dos princípios do Estado e Direito e da Moralidade. 

Agora mesmo, na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei 8231, de 2017, propõe o prazo mínimo de 60 dias para volta à consulta. Parece interessante à primeira vista, só que não! Ao impor camisa de força à assistência, destrói a base da boa abordagem ao paciente. Ou seja, por etapas, para que se possa solicitar alguns exames que visam definir os demais passos do atendimento. 

A estratégia de evitar submeter o doente a exames invasivos, de risco e que também apresentam alto custo cairia, assim, por terra. Perderiam a saúde e o Brasil. 

Mas com certeza o autor do PL não pensa assim. Talvez por não entender a diferença entre Legal e Moral. 

Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica