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O presidente da SBCM, Antonio Carlos Lopes, publicou artigo  no qual exalta a atuação do clínico e comenta sobre as deficiências na formação médica. "O ensino da medicina perdeu gradativamente seu potencial humanístico. O desafio atualmente é resgatar um modelo de formação que contemple todas as dimensões do conhecimento, principalmente com professores e bibliografia gabaritados. Mudanças estruturais não podem romper com este conceito, tampouco interesses políticos devem comprometer a qualidade do aprendizado – seja público ou privado." Confira o artigo completo:

Repensando a medicina

Em uma época já marcada pela excessiva valorização da tecnologia e pelo exagero em solicitações de todos os tipos de exames, nascia, há 26 anos, a Sociedade Brasileira de Clínica Médica. Mais atenta aos doentes do que às doenças, compromissada em oferecer aos pacientes uma assistência humana e humanizada, vinha para tomar a defesa do maior contingente de especialistas do Brasil – os clínicos, buscando resgatar valores da medicina e a boa prática.

 

Em 16 de março de 2016, brindaremos a mais um aniversário da SBCM. Simultaneamente, pela primeira vez, comemoraremos o Dia do Clínico. Essa nova e importante data do calendário médico brasileiro coroa uma luta pelo fortalecimento dos ideais do humanismo a da relação harmônica entre médicos e pacientes.

Hoje, nossa principal batalha ocorre entre as paredes das escolas, buscando qualidade no ensino e formação adequada. Décadas se foram e as faculdades de medicina viraram um balcão de negócios, ao menos em sua maioria. Um curso privado cobra mensalidades entre R$ 8 mil e R$ 13 mil, com contrapartida pífia. O Exame do Cremesp demonstra, ano a ano, que estamos formando médicos de competência duvidosa, que mal servem para tratar uma gripe.

No campo publico, também não há muito a comemorar. Eleições viciadas para reitores, mau uso dos recursos públicos, gestão incompetente e aparelhamento das universidades corroboram para acender um sinal vermelho aos pacientes. Dá medo pensar no tipo de medicina que teremos daqui 20 anos, se a situação não mudar imediatamente.

Aliás, sempre é bom repetir, o ensino da medicina perdeu gradativamente seu potencial humanístico. O desafio atualmente é resgatar um modelo de formação que contemple todas as dimensões do conhecimento, principalmente com professores e bibliografia gabaritados. Mudanças estruturais não podem romper com este conceito, tampouco interesses políticos devem comprometer a qualidade do aprendizado – seja público ou privado.

Falta ética, moral, valores, postura e compromisso. O incentivo à pesquisa perdeu espaço, enquanto a autopromoção cresce assustadoramente. Essa roda-viva enfraquece as bases da escola médica e, por conseguinte, da formação de nossos médicos.

Em risco está a população. Já são perceptíveis sinais latentes do profissional mal preparado, como em consultas rápidas, sem contato e avaliação atenta.

Nosso papel social é cuidar do ser humano, zelando pelo seu bem estar. Todavia, o caminho trilhado atualmente pelas universidades está na contramão das expectativas dos cidadãos. Formamos robôs insensíveis aos sinais delicados, captados somente por meio de uma relação médico-paciente sólida e condolente.

O cenário é reflexo do conhecimento teórico e prático insuficiente, raso, limitado e preguiçoso, focado em formar mais, não em formar melhor. Entendemos como nosso papel, enquanto SBCM, denunciar o descaso do governo e órgãos privados, despreocupados com a excelência, visando tão somente retorno monetário.

As portas e janelas das universidades também devem ser fechadas a qualquer tipo de doutrinação partidária, individual, preconceituosa e conservadora. É fundamental permanecerem, sim, completamente escancaradas à liberdade e às manifestações que visam o desenvolvimento social.

Erguemos esta bandeira há 26 anos e erguida ela prosseguirá em defesa dos pacientes e da boa medicina. No Dia do Clínico, chamamos a atenção da sociedade para a urgência de rever a formação médica. Carregamos em nossas mãos a responsabilidade de salvar vidas – trabalho árduo e glorioso, cujos alicerces encontram-se no aporte científico adquirido dentro da Academia e na paixão pelo o que fazemos. Não trairemos nossos princípios.

Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica