Destaques

22 Abril 2024
Como representante da especialidade com o maior número médicos especialistas do país, com o maior número de residentes e a menor taxa de ociosidade, a Sociedade Brasileira de Clínica Médica se...
16 Abril 2024
"É comum que os pacientes tenham um cardiologista, um endocrinologista, um cirurgião de referência, um urologista (os homens), um ginecologista (as mulheres) e outros especialistas conforme as...
12 Abril 2024
Artigo de Tycha Bianca Sabaini Pavan sobre pessoas que vivem com a co-infecção por Trypanosoma cruzi / HIV Doença de Chagas Descoberta em 1910, a doença de Chagas (DC) é causada pelo protozoário...

A relação entre o humanismo e a prática da medicina é objeto de inúmeros estudos, pesquisas e artigos no Brasil e no mundo. São várias as linhas de pensamento. Há, contudo, algumas premissas unânimes. Cito, por exemplo, a que atribui a desumanização às falhas do sistema e à falta de políticas de saúde consistentes.

Destaco, sem medo de errar, que parte do problema também se deve à decadência do aparelho de ensino, à formação insuficiente, à desvalorização do papel do médico. A turva visão social de alguns gestores é outro motivador da medicina se afastar cada vez mais de sua essência.

Salta aos olhos nos dias de hoje o descompromisso com os cidadãos por parte de hospitais de grande porte da rede pública. Seja para manter privilégios de uma casta e/ou em virtude da incompetência administrativa, há instituições de renome cancelando cirurgias e consultas, garantindo apenas atendimento básico em urgência e emergência. Assim, mesmo com ressalvas.



Evidentemente existe a agravante do subfinanciamento da saúde. São de fato escassas as verbas da União, os estados também deixam a desejar nesse quesito e os municípios não colaboram. Em todos os níveis, mágicos da matemática maquiam contas para apresentar balanços em consonância com a Lei Complementar 141/2012, que estabelece
a destinação de verbas mínima para a saúde.

Não podemos aceitar que gestores se apeguem à carência de recursos para justificar o que é fruto de incapacidade e, às vezes, de má fé. Se há pouco para gastar, que se gaste com responsabilidade e efetividade. Muitas contas não fecham, pois impera a cultura do desperdício. Fica a impressão de que não se pensa que alguém está pagando a conta.

Em hospitais com escolas médicas há mazelas ainda mais graves. Como os exames são “subsidiados”, joga-se dinheiro público no lixo. Uma investigação elementar mostrará que exames são solicitados sem controle e/ou critério. Um residente pede um, chega outro em turno diferente e pede mais um e assim segue. Uma auditoria facilmente encontrará o mesmo exame realizado três vezes em 24 horas, com iguais resultados.

A gestão hospitalar deve ser exercida por quadros qualificados e capacitados. Mas não é o que ocorre. Comumente ouvimos notícias de hospitais tidos como de excelência com gestão extremamente precária; isso porque quem exerce o cargo é incompetente, não tem formação adequada e, em casos específicos, nem boa índole.

Gestão é uma ciência tão relevante quanto à cardiologia, à pneumologia e assim por diante.

Em certas instituições, pessoas sem qualificação nem conhecimento na medicina ditam normas esdrúxulas, capitaneiam o Conselho Gestor sem base alguma. O resultado: desvio de verba, suplementações inadequadas, uso do serviço público para tratamento de doenças particulares, desvio de função...

Em determinadas castas diretivas é fácil encontrar indivíduos com suplementações salariais indevidas, que trabalham em outros lugares quando deveriam honrar o que recebem do Estado, prestando serviço à população.

Outro problema recorrente em hospital de ensino é que não tem quem ensine. Os teoricamente responsáveis pela formação não aparecem ou marcam o ponto (às vezes a distância, pela facilidade tecnológica) e vão para outro emprego. Daí a solicitação de exames desnecessários, apenas por curiosidade ou insegurança, sem indicação clínica, já que o aluno não tem mestre.

Sou médico e professor à moda antiga. Paciente para mim tem nome. Cuido de doentes não de doenças. Resgatar a boa prática da medicina, o humanismo e a cumplicidade entre médico e pacientes são prioridades para qualquer um que entenda o sistema de saúde como um direito básico do homem, conforme consagrado no artigo 196 da Constituição Federal.

Deixo então registrada minha indignação, mas jamais perderei e esperança nem a flama para lutar por mudanças. Assim, faço um chamado a todos os médicos, profissionais de saúde e cidadãos a valorizar a qualidade de vida e a dignidade humana em cada momento e campo profissional, em particular na medicina.

Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica