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De origem latina, universidade significa conjunto, comunidade. Este termo deve ser carregado para além da congregação entre estudantes e mestres detentores do conhecimento, os quais visam fundir-se intelectualmente dentro de um conceito multidisciplinar. Universidade deve envolver a todos, dentro e fora de suas paredes, para, assim, criar o universo do saber – cujo poder transformador é imensurável. 

Isso posto, afirmo categoricamente que a visão dessa instituição no Brasil deve ser remodelada com urgência. Atualmente, o Conselho Universitário, órgão máximo, é composto por integrantes de diversas faculdades e que, infelizmente, encaminham as discussões coletivas para interesses pessoais e/ou segmentados. Como é possível um imenso conflito de ideias, sem eixo comum, levar a decisões que beneficiem a todos?



Isto acarreta em grande perda qualitativa nas grandes universidades públicas nacionais, haja vista que o núcleo executivo é, muitas vezes, refém de ligações político-partidárias. Logo, manchado por arranjos ideológicos, o nivelamento de seus cursos ocorre por baixo, desvalorizando-se na essência e sem aulas expoentes.

Reflexo dessa realidade é, por exemplo, o resultado do Exame do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP), realizado em outubro de 2014, reprovando mais da metade dos recém-formados – 55% não acertaram nem 60% da prova, o mínimo esperado. Também podemos debruçar sobre o Exame de Ordem dos Advogados do Brasil (OAB): entre 2010 e 2014, apenas 18% foi aprovado. 

Uma má gestão afeta o geral; alunos, professores e comunidade. Para reverter tal quadro, também é imperioso erradicar da Lista Tríplice, a qual indica pessoas para o cargo de diretor de uma escola. Desconsiderando o número de votantes, indivíduos completamente incapacitados colocam em risco o futuro de um centro universitário; cenário presenciado por nós durante as recentes eleições de uma das mais renomadas escolas de Medicina do Estado de São Paulo. A responsabilidade de arcar com uma universidade é gigantesca e não pode ser assumida por qualquer um, só para satisfazer uma corrente político-ideológica. 

Voltamos, assim, à questão ideológica, política e individual, levando em consideração apenas o que é vantajoso para si próprio. 

O ensino público está em decadência evidente – não é à toa que 75% das universidades são particulares. No horizonte enxergamos que estas, em curto prazo, ocuparão lugar de enorme destaque no campo científico, acadêmico e profissional, no Brasil. As universidades públicas estão perdendo cada vez mais espaço graças a interferências externas que corrompem o espírito genuíno do campo de compartilhamento e aprimoramento de saber. 

O que vemos hoje é a migração de docentes para instituições que estimulem a liberdade de criar, de respirar e de avançar com as próprias asas a fim de desenvolver inovações científicas e tecnológicas. Isto só ocorre em ambientes férteis, com reitores bem alinhados com as necessidades do coletivo. 

Aproveito, então, para parabenizar Marco Antonio Zago, reitor da Universidade de São Paulo, que trabalha arduamente para recuperar o alto patamar antigamente ocupado pela USP, além de erguer-se da crise financeira. Atuando de modo a incentivar a ousadia dos pesquisadores, Zago é o modelo de gestor culto e inteligente, fundamental para o bom desempenho de toda escola. 

Universidade, bem como conhecimento, deve ser livre de fronteiras, mantendo as bases fortemente fincadas em terrenos sólidos e fecundos. Deve ter a participação do coletivo, alunos, docentes, técnicos administrativos em educação e servidores. Nada pode ser capaz de perverter sua essência, sobretudo os embates políticos. Devemos lutar pela qualidade, pela força, pela veridicidade e pela autenticidade de nossas instituições. Olhando para o norte, sempre desejando o melhor, nunca podemos perder nosso propósito e nossa virtude.

A
ntonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica
(Publicado no Jornal Folha de São Paulo - 05/07/2015 - Tendências e Debates)