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É constrangedor a qualquer cidadão ver que autoridades que deveriam defender os anseios dos brasileiros ignoram a importância da saúde, deixando claro que não têm compromisso algum com a assistência de qualidade. Exemplo disso é o “Mais Médicos” que, em poucos meses, já começou a demonstrar sua fragilidade. Um grupo de 48 profissionais que atua pelo programa foi reprovado no Revalida, exame federal para reconhecer o diploma de medicina obtido no exterior. Eles foram aceitos para atuar na atenção básica prioritariamente no interior do país, onde há as maiores carências. Contudo, muitos deles acabaram sendo alocados em grandes centros. No total, 1.440 candidatos não passaram para a segunda fase. Entretanto, os 48 reprovados poderão exercer a medicina, mesmo após atestado de que não estão qualificados para tal. Com fim meramente eleitoreiro, permite-se que profissionais de capacidade insuficiente exerçam a medicina. E é a população, em particular as pessoas mais vulneráreis, que corre risco real.


Aí está o motivo dos médicos brasileiros se mostrarem tão preocupados com o fato do “Mais Médicos” dispensar o Revalida para admissão dos estrangeiros. Também se torna evidente a razão das entidades médicas rejeitarem alguns pontos do programa. Não se trata de xenofobia, muito menos de competição no mercado com os colegas estrangeiros. Trata-se de uma medida que interfere negativamente na estrutura da nossa medicina, reconhecida mundialmente por sua excelência.

A verdade é que nós, médicos brasileiros, permanecemos sensibilizados com a falta de assistência em regiões afastadas, mas temos a consciência de que sem a infraestrutura necessária não há muito como avançar. Médico não é mágico, precisa ter à disposição medicamentos, equipamentos, exames, equipe multidisciplinar e outros profissionais da saúde.

Os médicos formados fora não conhecem a realidade do nosso sistema público de saúde e estão iludidos com o discurso marqueteiro do governo. Através dessa medida, o Ministério da Saúde desrespeita tudo que já foi construído pelas entidades médicas e acadêmicas nacionais, que vêm colocando o Brasil em posição de destaque na medicina internacional.

Infelizmente esse é mais engodo que nos acostumamos a ver às vésperas das eleições. Ao invés de investir dinheiro público para construir bons hospitais e postos de saúde, o que obviamente levaria profissionais para qualquer canto do Brasil, o governo opta por ludibriar a população com a presença de médicos sem qualificação. Não podemos aceitar essa inversão de valores.

É frequentemente dito na mídia que os cubanos vêm para cá imbuídos de um profundo sentimento humanista, com objetivo de prestar assistência ao povo já que os médicos brasileiros não se preocupam com a sua comunidade carente. Esse profundo humanismo deve ser questionado, pois, por pior que sejam os locais afastados nos quais esses profissionais irão atuar, ainda assim é muito maior a liberdade vivenciada aqui do que em seu país de origem. No Brasil eles podem inclusive aproveitar o sol e a beleza naturais características de todas as regiões. Certamente na hora de enfrentarem a falta de infraestrutura, ambulatórios feitos de sapé, com insetos nas paredes, o saldo é positivo, a despeito de receberem uma ninharia de salário e passarem três anos afastados da família. 

Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica