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O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo divulgou, dias atrás, os resultados do Exame do Cremesp, que a partir desse ano se tornou obrigatório a todos os formandos de Medicina. Entre 2.411 participantes, formados em escolas médicas do Estado de São Paulo, 54,5% foram reprovados no Exame do Cremesp, pois acertaram menos de 60% da prova, ou seja, menos de 71 das 120 questões.  É certo que Exame do Cremesp chama a atenção para deficiências na formação dos estudantes em campos essenciais do conhecimento médico. Mostra o baixo índice de acertos em Saúde Mental (média de 41% de acertos), Saúde Pública (46,1%), Clínica Médica (53,1%) e Ginecologia (55,4%) e indica que a abertura indiscriminada de novos cursos de medicina sem o mínimo necessário para que sejam ao menos razoáveis transformou muitos vestibulares em roleta russa.



Temos escolas sem professores capacitados, com grade curricular e modelo pedagógico questionáveis, sem hospital-escola e com muitos outros problemas. Assim fica impossível formar um bom médico. Em nossa profissão o contato com o paciente é tudo. É imprescindível gostar de gente, conhecer o doente, entendê-lo e compreender a raiz de sua enfermidade. Quem não é possuidor dessas qualidades, não tem a menor condição de ser médico, mesmo recebendo boa formação teórica.

A questão é que, muitas vezes, nem essa base teórica necessária os acadêmicos recebem em algumas faculdades de medicina do país. É por isso, aliás, que o Conselho Regional de Medicina acaba de tornar obrigatório, por meio da resolução 239/2012, o Exame do Cremesp como novo instrumento de avaliação da formação dos profissionais recém-graduados.

Considero iniciativa bastante louvável, mas é preciso atentar para alguns aspectos. Uma prova que avalia apenas o conhecimento cognitivo e teórico do recém-formado acaba sendo incompleta, pecando por não verificar aspectos fundamentais para o exercício da medicina, que são a relação médico-paciente, o humanismo à beira do leito, as habilidades, ética e atitudes características da profissão médica.

Alunos que decoram livros ou têm a possibilidade de estudar em cursinhos, poderão tirar nota bastante elevada, mas sem ter a menor noção de como abordar o paciente, praticar a anamnese, realizar exame físico ou mesmo dar notícia desagradável ao doente e sua família. Tudo isso deixa de ser avaliado quando se faz um exame puramente teórico.

Exatamente por esses motivos é que, quando estive à frente do Departamento de Residência e Projetos Especiais na Saúde da Secretária de Educação Superior do Ministério da Educação, instituímos a prova prática no exame de Residência Médica, que foi um grande diferencial. Esta prova do Cremesp pode não ser uma ferramenta fiel de aferição da qualidade do ensino, uma vez que o exame não é obrigatório.

Vale registrar que a nova resolução do Conselho paulista não impede a prática da medicina. Para a obtenção do registro somente é necessário apenas apresentar o comprovante de que realizou a prova, independente da nota obtida. Quer dizer: os profissionais mal formados sairão exercendo a profissão sem a competência necessária. 

Portanto, não me canso de repetir que para ser médico é preciso um certo sexto sentido para intuir como está a saúde do paciente olhando em seu olho, pegando em suas mãos. No exercício desta atividade, não há quem confira as decisões tomadas. Ninguém revisa a conduta do cirurgião que está com o abdome aberto, assim como ninguém confere a receita que o paciente leva ao sair do consultório médico. Sinal da responsabilidade deste profissional, que não se encerra com a saída do doente.

É uma área em que há necessidade primordial de vocação. Nesse sentido, não basta apenas conhecimento para passar no vestibular ou concluir o curso de graduação em medicina. O ideal seria que cada um dos candidatos fosse avaliado por um exame psicotécnico que selecionasse, não só aquele que sabe mais, aquele que possui as características exigidas pela profissão. Se assim o for, estaremos de fato buscando salvaguardar a saúde e a vida dos cidadãos brasileiros.

Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica