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Férias escolares prorrogadas, pessoas com medo de sair de casa até para compras básicas, cidades proibindo a aglomeração de pessoas em locais fechados e sem ventilação. Enfim, pânico generalizado por conta da gripe A.

 

Inicialmente denominada gripe suína, a infecção causada pelo vírus H1N1 vem desafiando a saúde pública mundial e alarmando as pessoas por conta de sua rápida disseminação desde que apareceram as primeiras manifestações em abril.

 

Dados recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS) apuram mais de 100 mil casos confirmados, e milhares de mortes. Só no Brasil, o número aproximado de 3.000 casos não para de subir, ainda que a maioria absoluta dos doentes venha apresentando sintomas leves e moderados, evoluindo para cura.

 

No entanto, com toda essa repercussão, e mesmo com a probabilidade de uma pandemia de proporções inusitadas, a opinião de especialistas em saúde é unânime: a epidemia não é motivo de alarde. Conforme os casos surgem, novas estratégias e novos protocolos são desenhados e, aos poucos, a incidência tende a diminuir.

As autoridades brasileiras, portanto, devem investir na capacitação dos profissionais de saúde para identificar corretamente os quadros suspeitos, distribuir medicamentos de modo que cheguem a todas as localidades do país e buscar mais transparência na divulgação das informações, para colocar fim ao medo desproporcional.

Em primeiro lugar, os números atribuídos até agora a essa virose podem não estar corretos, já que existe a dúvida se todos os casos anunciados são realmente de gripe A. Em segundo lugar, é preciso considerar se todas as mortes ao redor do mundo de fato ocorreram apenas por conta da contaminação com o vírus H1N1 ou incidiram em pacientes portadores de outras doenças que favoreceram a instalação do quadro pneumônico e suas complicações. Certamente a maioria das vítimas fazia parte de um “grupo de risco”: eram pessoas com saúde debilitada, crianças ou idosos.

Os dados clínicos destes pacientes, a presença de comorbidades e a idade destas vítimas são fatores que não têm sido devidamente considerados. Os casos mais graves geralmente são verificados em idosos, crianças menores de dois anos, gestantes e portadores de doenças que levam à deficiência imunológica, tais como câncer, diabetes, doença cardíaca, pulmonar ou renal crônica; e ainda aqueles em tratamento para aids ou em uso regular de corticosteróides. Estas informações são extremamente importantes e fatalmente revelariam que a gripe comum, no Brasil, ainda atinge – e mata - muito mais pessoas do que a nova gripe.  A gripe comum, durante o inverno, causa cerca de 17 mortes por dia, segundo publicou o jornal “Folha de São Paulo” recentemente.

Superestimar a gripe A, minimizando várias outras doenças ainda mais graves e preocupantes, é um erro. Acaba desviando o foco de índices de mortalidade muito mais elevados, como ocorre, por exemplo, com a dengue. Aliás, essa doença não está recebendo a devida atenção, e a Sociedade Brasileira de Clínica Médica, há mais de 7 anos, alerta as autoridades públicas e a comunidade sobre o risco que a dengue representa.

A superpreocupação com a gripe A está servindo para encobrir o fato de que ainda há deficiência de políticas públicas de saúde no Brasil. Políticas que realmente atuem para minimizar a incidência de doenças que de fato oferecem importante risco.

Prof. Dr. Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica

Artigo publicado dia 18/08/2009 no jornal Diário Catarinense