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Entre os anos de 2003 e 2007, a expectativa de vida do brasileiro subiu de 69 para 72,7 anos. Mas os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) são relativamente baixos se comparados aos índices de países como o Japão, que já em 2003 ultrapassava os 81 anos. Mesmo assim, isso indica que a população brasileira está envelhecendo. Se em 2000, os maiores de 65 anos eram apenas 5% da população, em 2050 chegarão a 18%. 

Tais estatísticas ajudam a explicar o aumento do número de doentes em estágio terminal nos quatro cantos do país. E por isso, também vem sendo cada vez mais debatida a Medicina Paliativa e a necessidade de mais profissionais da área da saúde engajados nesta abordagem, que é olhar o paciente como um todo e não apenas com foco na doença. Há sempre algo para se fazer pelo doente permitindo que sua sobrevida seja de melhor qualidade, o que faz com que essa abordagem não seja, portanto, essencialmente paliativa.

É nosso dever cuidar com dignidade dos pacientes vitimados por doenças graves e oferecer a eles cuidados médicos de excelência. Nesse sentido, é importante dar suporte psicológico, espiritual e emocional, inclusive para os familiares mais próximos. 

O problema é que hoje, no Brasil, as pessoas com doenças graves, sem perspectiva de sobrevivência, são duplamente castigadas. Além de não terem o que fazer contra a doença, são praticamente condenadas a um triste fim, pois nem sempre são tratadas adequadamente. 

Os planos de saúde se preocupam com os custos. Enviam pacientes para casa sem sequer avaliar qual seria a situação mais confortável para ele. E no setor público não é diferente. Falta respeito e humanidade. 

Criamos na Sociedade Brasileira de Clínica Médica um Capítulo de Medicina Paliativa, com o intuito de difundir os conceitos da humanização e dos cuidados paliativos para médicos, sociedades de especialidades, meio acadêmico, instituições de saúde públicas e particulares, e também para os gestores do sistema de saúde em âmbitos municipal, estadual e federal. 

Infelizmente, é uma ação isolada, com resultados tímidos perto da necessidade do país. É urgente uma política de governo para o atendimento humanizado a esse grupo de pacientes. O Estado precisa criar centros regionalizados de cuidados paliativos que funcionem também como hospital-dia, para garantir que o paciente que não necessita de internação seja atendido sem ocupação de leito. Essa iniciativa permite baixar o custo da saúde sem comprometer a proposta da busca pela excelência. 

A formação médica também carece de ajustes. As instituições de ensino têm que contemplar em seus currículos, tanto da graduação, como da residência médica, a medicina paliativa, e oferecer uma assistência humanizada que passa obrigatoriamente pelo processo de aprendizado. 

O médico, por fim, tem que acompanhar o paciente sempre, dando suporte e segurança a ele, mesmo quando não há mais possibilidade de vencer uma doença. O paciente tem que morrer de mãos dadas com o seu médico. Nada é mais importante nesse momento do que o profissional de medicina que tem nome e rosto, e que conhece o nome e o rosto do paciente.

Prof. Dr. Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica

Artigo publicado no jornal O Estado de Minas dia 08 de julho de 2009