Etiologias Infecciosas |
Etiologias Não Infecciosas |
Vírus • Enterovírus • HSV 1 e HSV 2 • Varicela Zoster • Adenovírus • Epstein-Barr • HIV • Influenza tipo A e B |
Fármacos • AINES • SMT-TMP • Azatioprina • Imunoglobulina por via venosa • Isoniazida • MTX por via subaracnoidea • Vacinação • Alopurinol |
Bactérias • Meningites parcialmente tratadas • Infecções parameníngeas • Endocardite • Mycoplasma pneumoniae • M. tuberculosis • Treponema pallidum • Borrelia burgdorferi |
Doenças Sistêmicas • Sarcoidose • Neoplasia leptomeníngea • Lúpus eritematoso sistêmico • Granulomatose de Wegener • Vasculites do SNC • Doença de Behçet |
Fungos • C. neoformans • Histoplasma capsulatum • Coccidioides immitis • Blastomyces dermatitides |
Miscelânea • Enxaqueca • Aracnoidite • Síndromes pós-infecciosas |
Parasitas • Toxoplasma gondii • Taenia solium |
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HSV = Herpes Vírus, HIV = vírus da imunodeficiência humana, AINES = anti-inflamatório não esteroide, SMT-TMP = sulfametoxazol-trimetoprim, MTX = metotrexato, SNC = sistema nervoso central.
Meningite asséptica medicamentosa
A incidência de meningite asséptica medicamentosa é desconhecida. Muitos fármacos relacionam-se com a doença: amoxacilina, sulfametoxazol-trimetoprim, ciprofloxacino, cefalexina, metronidazol, penicilina e isoniazida. Adicionalmente, o alopurinol, AINES (p. ex.: ibuprofeno), carbamazepina, lamotrigina, ranitidina, imunoglobulinas, vacinas (hepatite B e caxumba) e anticorpos monoclonais estão envolvidos na fisiopatologia da meningite asséptica. A apresentação clínica, bem como a análise do LCR não diferencia as meningites assépticas virais das medicamentosas16-18.
Fisiopatologia
Os mecanismos fisiopatológicos diferem de medicação para medicação. Um dos mecanismos propostos é a irritação meníngea direta pela exposição intratecal do agente sobre a meninge; outro mecanismo proposto seria uma reação de hipersensibilidade tipo III e IV ao fármaco administrado. Nas reações do tipo III há formação de imunocomplexos com ativação do sistema complemento; nas reações do tipo IV, as células T helper CD4+, após uma sensibilização primária, são recrutadas para a área da inflamação19,20.
Tratamento
A descontinuação do agente desencadeante por si só reduzem o processo inflamatório. Uma recuperação completa, sem déficits funcionais é observada na maioria dos casos.
Diagnóstico das meningites assépticas
O diagnóstico das meningites assépticas baseia-se nos achados da anamnese e exame físico bem como na avaliação do LCR. A presença de menos de 500 células/mm3 é característica. Uma avaliação muito precoce pode revelar um LCR acelular ou com pleocitose de predomínio polimorfonuclear, a típica pleocitose mononuclear surge em 8-48h. A pressão de abertura pode estar aumentada com glicorraquia normal ou discretamente diminuída. Há hiperproteinorraquia (50-100 mg/dL), diminuição da concentração de lactato e fator de necrose tumoral alfa (TNF)21,22. Os testes para antígenos virais através da reação em cadeia da polimerase ajudam no diagnóstico23. Exames de neuroimagem não ajudam no diagnóstico de meningite asséptica12.
Tratamento das meningites assépticas
O tratamento primordial é a administração de antibioticoterapia quando uma meningite bacteriana for suspeitada, reduzindo assim a morbimortalidade da doença. A retirada do antibiótico está indicada após resultado negativo da cultura do LCR (48-72h após o início da terapia). Na hipótese de meningite asséptica, nenhuma terapia específica encontra-se disponível, sendo indicado apenas suporte clínico com anti-inflamatórios, analgésicos, antieméticos e fluidos intravenosos.
Terapias antivirais
Apenas dispõe-se de terapia antiviral dirigida ao HSV-1 e 2, varicela zoster e citomegalovírus. Aciclovir ou valaciclovir estão indicados nos pacientes com meningite asséptica por HSV-2 e infecção herpética genital primária. Antibióticos de largo espectro são administrados para infecções bacterianas incomuns. Ocasionalmente a dexametasona poderá ser utilizada quando houver sinais de aumento da pressão intracraniana, porém são contra-indicados nas infecções por herpes. Na vigência de crises convulsivas, opta-se pela fenitoína ou fenobarbital. Anticonvulsivantes profiláticos não estão indicados3,10,11.
CONCLUSÃO
O diagnóstico de meningite asséptica torna-se um desafio clínico no momento em que suas características clínicas se sobrepõem às características das meningites bacterianas. As informações provenientes do exame de LCR são de fundamental importância para seu diagnóstico, no entanto, muitas vezes, num estágio inicial da doença, também o exame de LCR não se mostra com características que permita assumir o diagnóstico de meningite asséptica. O diagnóstico de meningite viral é frequente e mais prevalente quando comparado às meningites bacterianas, sua evolução clínica é autolimitada, contudo, sua inespecificidade clínico-laboratorial nos estágios iniciais da doença, muitas vezes nos remete à utilização de antibioticoterapia empírica e internação “profilática”, até que fique definido o diagnóstico de meningite asséptica. O clínico deve sempre considerar a hipótese de meningite asséptica medicamentosa no intuito de indicar a pronta remoção do seu agente causador.
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1. Biomédico pela Universidade de Santo Amaro (UNISA), Interno do Curso de Medicina da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID); Professor de Neurociências das Faculdades Integradas Paulista. São Paulo, SP, Brasil
2. Interna da Faculdade de Medicina da Universidade Cidade de São Paulo (UNICID). São Paulo, SP, Brasil
3. Professor Livre Docente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP). São Paulo, SP, Brasil
Apresentado em 03 de abril de 2011
Aceito para publicação em 16 de janeiro de 2012
Endereço para correspondência:
Daniel Damiani
Rua Bela Cintra, 2117/9
01415-000 São Paulo, SP.
E-mail: dani.neurocirurgia@gmail.com
© Sociedade Brasileira de Clínica Médica
Tabela 1 – Características do LCR normal, do líquor com infecção bacteriana e viral. DL: decúbito lateral
Critérios |
Normal |
Meningite Bacteriana |
Meningite Asséptica Viral |
Aspecto |
Límpido |
Purulento |
Opalescente |
Cor |
Incolor |
Turvo |
Levemente xantocrômico |
Citologia |
Até 4 células/mm3 |
Pleocitose evidente |
Pleocitose moderada |
Citomorfologia |
Linfócitos: 50%-70% Monócito: 30%-50% |
Neutrofilia |
Linfomonocitário |
Proteinorraquia |
Até 40 mg/dL |
Aumentado |
Normal ou discretamente aumentado |
Clororraquia |
118-130 mEq/L |
- |
- |
Glicorraquia |
50-80 mg/dL (2/3 da sérica) |
Diminuída |
Normal |
Pressão de Abertura |
DL: 5-20 cmH2O (3,5 – 15 mmHg) Sentado: até 45 cmH2O (33 mmHg) |
Aumentado |
Normal |
LCR = líquido cefalorraquidiano
Retirado e modificado de Odashima e Takayanagui15