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05_Alimentos_RBCM_v10_n1

Rev Bras Clin Med. São Paulo, 2012 jan-fev;10(1):24-8

Alimentos funcionais: um enfoque gerontológico*

 

Functional foods: a gerontological approach

 

Igor Marcelo Castro e Silva1, Emmanuela Quental Callou de Sá2

 

*Recebido da Universidade Federal do Ceará. Fortaleza, CE.

RESUMO

 

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: O tema “alimentos funcionais” tem-se tornado aspecto relevante no meio acadêmico, estabelecendo um “círculo virtuoso”, produzindo melhorias no consumo alimentar diário da população idosa. O objetivo deste estudo foi identificar o conhecimento veiculado em periódicos brasileiros e estrangeiros sobre alimentos funcionais e clínica geriátrica.

CONTEÚDO: Os alimentos mais estudados na geriatria são: aveia, tomate, soja, linhaça, peixe e amêndoas. Estudos epidemiológicos correlacionam à maior ingestão de fibra alimentar com menor incidência de câncer de cólon e reto, mama, diabetes e aterosclerose. O consumo diário de 15 mg de licopeno aumentou significativamente a proteção às lipoproteínas do estresse oxidativo. A soja está sendo relacionada à redução do risco de câncer de mama, osteoporose, deficiência cognitiva e efeitos da menopausa. O consumo diário de 10 g de linhaça promove alterações hormonais associadas com a redução do risco de câncer de mama. O consumo diário de 35 g de peixe pode reduzir o risco de morte por infarto no miocárdio. O selênio na dose diária de 75 μg para homens e 60 μg para mulheres, maximiza a atividade antioxidante da enzima, glutationa peroxidase.

CONCLUSÃO: A mortalidade da população idosa, devido a acidentes cardiovasculares, câncer, acidente vascular encefálico, aterosclerose, doenças hepáticas pode ser minimizada através de compostos bioativos e substâncias presentes em determinados alimentos, os chamados alimentos funcionais.

Descritores: Alimentos funcionais, Idosos, Prevenção da saúde.

 

SUMMARY

 

BACKGROUND AND OBJECTIVES: The theme of “functional foods” has become a significant aspect in the academic environment, establishing a “virtuous circle”, producing improvements in daily food intake of the elderly population. This article has identified the knowledge disseminated in Brazilian and foreign journals on functional foods and geriatric clinic.

CONTENTS: The foods most studied in geriatrics are: oatmeal, tomato, soybean, flaxseed, fish, and almonds. Epidemiological studies have correlated the higher dietary fiber intake with lower incidence of colon and rectum, breast, diabetes, atherosclerosis. The daily consumption of 15 mg of lycopene significantly increased the protection of lipoproteins from oxidative stress. Soy is linked to reduced risk of breast cancer, osteoporosis, cognitive impairment and effects of menopause. 10 g of flaxseed daily creates hormonal changes associated with reduced risk of breast cancer. The daily consumption of 35 g of fish may reduce the risk of death from myocardial infarction. Selenium in daily dose of 75 μg for men and 60 μg for women maximizes the antioxidant enzyme, glutathione peroxidase.

CONCLUSION: Mortality of the elderly population due to cardiovascular events, cancer, stroke, arteriosclerosis, liver disease can be minimized by bioactive compounds and substances in certain foods, so-called functional foods.

Keywords: Elderly, Functional foods, Preventive health.

 

INTRODUÇÃO

 

Envelhecer é algo que faz parte da história da humanidade. Trata-se, também, de uma construção histórica social devido às variadas formas pela qual o processo de envelhecimento é entendido e vivido em diferentes comunidades1.

O envelhecimento constitui um processo natural e inevitável, fazendo parte do ciclo biológico da vida. Canudas-Romo2 relata que o século XX traz como conquista o aumento da longevidade. Nesse âmbito, há forte preocupação da classe médica na manutenção e prevenção da saúde dos idosos, no que diz respeito à alimentação adequada e qualidade de vida3. A indústria e a comunidade científica têm buscado cada vez mais informações a respeito de substâncias, alimentos e suplementos que podem melhorar a saúde do idoso4.

Foram revistos artigos de língua portuguesa, inglesa e francesa disponíveis nas bases de dados Pubmed e Scielo. Foram selecionados artigos dos últimos 10 anos de maior relevância clínica. Os descritores definidos foram alimentos funcionais, prevenção, idosos.

O objetivo deste estudo foi identificar o conhecimento veiculado em periódicos brasileiros e estrangeiros sobre alimentos funcionais e nutrição em idosos.

 

ALIMENTOS FUNCIONAIS

 

O princípio “deixe o alimento ser teu remédio e o remédio ser teu alimento”, colocado por Hipócrates, há, aproximadamente, 2.500 anos, recebe interesse ímpar dos consumidores de alimentos específicos ou componentes alimentares ativos fisiologicamente, os alimentos funcionais, capazes de melhorar a saúde5.

Em sua essência, os alimentos funcionais são “alimentos que provêm da oportunidade de combinar produtos comestíveis de alta flexibilidade com moléculas biologicamente ativas, como estratégia para consistentemente corrigir distúrbios metabólicos, resultando em redução dos riscos de doenças e manutenção da saúde”6.

Os alimentos mais pesquisados e estudados na alimentação do idoso são: aveia (fibra alimentar), tomate (betacaroteno), soja (isoflavonas), linhaça, peixe (ácido linoléico), amêndoas (selênio).

 

Fibras

A aveia, por ser fonte de fibras solúveis β-glucana, foi o produto que primeiro recebeu alegação de saúde aprovada pelo FDA7.

Os efeitos protetores das fibras contra as doenças cardiovasculares em idosos datam de mais de 40 anos8. A fibra de maior evidência, à época, era a pectina, sendo as betaglucanas e as psyllium, posteriormente, evidenciadas9.

Diversos estudos epidemiológicos correlacionam a maior ingestão de fibra alimentar com a menor incidência de várias doenças, como o câncer de cólon e reto, câncer de mama, diabetes, aterosclerose, doença de Crohn e doença diverticular10.

Park e col.11 examinaram a ingestão de fibra alimentar em relação à mortalidade total e mortalidade por causas específicas em estudo de corte prospectivo, com média de 9 anos de seguimento. Foram identificadas 20.126 mortes em homens e 11.330 mortes em mulheres. O consumo de fibra alimentar foi associado a um risco significativamente reduzido de morte total em homens e mulheres (risco relativo [RR], 0,78 [IC95%, 0,73-0,82; p < 0,001] em homens e 0,78 [95% CI, 0,73-0,85; p < 0,001] em mulheres). A ingestão de fibras, também, reduziu o risco de morte por doenças cardiovasculares, infecciosas e respiratórias em 24% a 56% nos homens e 34% para 59% em mulheres. A associação inversa entre a ingestão de fibra alimentar e de morte por câncer foi observado nos homens, mas não em mulheres. A fibra dietética, a partir de grãos foi significativa e inversamente relacionada com a mortalidade por causas específicas em homens e mulheres.

Estudo de corte prospectivo, com seguimento 6,5 anos, com 89.432 participantes europeus, com idades entre 20 e 78 anos, sem a presença de sintomatologia compatível com câncer, doenças cardiovasculares e diabetes no início do estudo, avaliou a associação da fibra dietética total, fibras de cereais, frutas e fibras vegetais com mudanças no peso e circunferência abdominal (CA). A ingestão de 10 g de fibra total/dia esteve relacionada com a redução de peso de 239 g/ano (95% IC: 271,27 g/ano) e de 20,08 cm/ano para CA (95% IC: 20,11, 20,05 cm/ano), enquanto o consumo de 10 g de fibras de cereais /dia foi associado com redução de peso de 277 g/ano (95% CI: 2127, 226 g/ano) e de 20,10 cm/ano de CA (IC 95%: 20,18, 20,02 cm/ano). Frutas e fibras vegetais não foram associadas com alterações de peso, mas houve uma associação semelhante com a CA quando comparados com a ingestão de fibra total na dieta12.

Elevadas doses de β-glucano diminuem as respostas pós-prandiais de insulina e glicose em indivíduos não doentes8. Em estudo sobre a influência de fibras dietéticas em pacientes diabéticos e não diabéticos, detectou-se, após 14 anos de acompanhamento, que o consumo de fibra total foi associado com risco diminuído de diabetes entre todos os homens [(FC): 0,75, 95% CI: 0,67, 0,84; p = 0,001) e mulheres (HR: 0,95; 95% CI: 0,85, 1,06; p = 0,05). A maior ingesta de fibras de grãos reduziu significativamente o risco de diabetes em 10% em homens e mulheres. A alta ingestão de fibras vegetais reduziu o risco em 22% em todos os homens, mas não em mulheres13.

Investigando a relação entre dieta e câncer de laringe, Edefonti e col.14 em estudo de caso controle, examinaram 460 casos confirmados histologicamente de câncer de laringe em duas regiões italianas. O grupo controle foi constituído por 1.088 indivíduos internados por doenças agudas não neoplásicas, não relacionadas ao tabaco ou consumo de álcool. Identificaram-se cinco principais padrões de consumo alimentar denominados de “produtos de origem animal”, “rico em amido”, “vitaminas e fibras”, “vegetais ácidos graxos insaturados” e “animal- ácidos graxos insaturados”. As vitaminas e os padrões de fibra alimentar mostraram-se inversamente associados com a incidência câncer de laringe (OR, 0,35, 95% CI, 0,24-0,52 para o mais alto quartil versus o quartil de menor pontuação), enquanto os produtos de origem animal (OR, 2,34, 95% CI, 1,59-3,45) e os animais – ácidos graxos insaturados (OR, 2,07; 95% CI, 1,42-3,01) foram diretamente associados ao câncer. Não houve associação significativa entre os vegetais de ácidos graxos insaturados e os padrões das dietas ricas em amido e risco de câncer de laringe.

Em estudo caso controle, Kubo e col.15 analisaram 308 pacientes portadores de doença do refluxo gastroesofágico, sendo 296 casos (portadores de esôfago de Barret) e 309 controles saudáveis, e evidenciaram que o maior consumo de ômega-3 (casos versus controle; OR = 0,46, IC 95% 0,22-0,97), fibras poli-insaturadas, gordura total (OR = 0,34, IC 95% 0,15-0,76) e fibra das frutas e produtos hortícolas (OR = 0,47 IC95% 0,25-0,88) foram associados com menor risco de propiciar esôfago de Barret. O consumo total de gordura, alimentos grelhados e ingestão de fibras provenientes de outras fontes de frutas e verduras não foram associados com o esôfago de Barret.

 

Carotenoides

Os carotenoides são amplamente encontrados em diversas frutas, legumes e verduras, com biodisponibilidades diferentes. Essa biodisponibilidade é afetada pelas características do próprio alimento e da sua matriz, pela temperatura, pelo tipo de calor empregado no processamento do alimento e pela veiculação de potencializadores absortivos dos carotenoides16.

Antioxidantes em sistemas biológicos, os carotenoides estão ligados diretamente a proteção contra a ação dos radicais livres e estresse oxidativo. Alimentos ricos em carotenoides estão sendo estudados tanto in vitro como in vivo, para elucidação das possibilidades de ação quimiopreventiva do câncer16.

Hadley e col.17 constataram que o consumo diário de derivados do tomate, com 15 mg de licopeno, aliado a outros fitonutrientes, aumentou significativamente a proteção às lipoproteínas do estresse oxidativo.

Corroborando com determinados resultados, Serra e Campos18 indicaram que o licopeno, absorvido de produtos de tomate, atua como antioxidante in vivo.

Chang e col.19 em análise de caso controle com 118 homens caucasianos não latinos americanos portadores de câncer de próstata não metastático versus 52 homens saudáveis, avaliaram o risco de câncer e o nível de carotenoides totais, β-criptoxantina, α- e betacaroteno, luteína e zeaxantina, licopeno total, translicopeno e isômeros cis do licopeno (15-cis, 13-cis, 9-cis, 5-cis). Concluíram que o risco de câncer de próstata correlacionou-se negativamente com elevados níveis séricos de α-caroteno, trans-β-caroteno, β-criptoantina, luteína e zeaxantina (p < 0,05). A análise comparativa entre homens com doença avançada (88 pacientes) versus homens com casos brandos da doença (30 pacientes) não mostrou associação significante entre o nível de carotenoides e o risco de diagnóstico de doença avançada. Sugerem, assim, que, em homens que apresentam altos níveis de β-criptoxantina, α-caroteno, trans- β-caroteno, luteína e zeaxantina, pode haver diminuição do risco, mas não da progressão da doença.

Estudo caso controle com pacientes do sexo feminino, sendo 604 casos de câncer de mama e 626 controles sem a doença, mensurou os níveis séricos circulantes de carotenoides e a densidade mamográfica. De modo geral, os carotenoides totais circulantes foram inversamente associados com o risco de câncer de mama (p de tendência = 0,01). Entre as mulheres com alta densidade mamográfica, os carotenoides totais foram associados com uma redução de 50% no risco de câncer de mama (OR = 0,5; IC 95%). Em contrapartida, essa associação inversa não foi observada entre mulheres com baixa densidade mamográfica. Os resultados sugerem, assim, que os níveis plasmáticos de carotenoides podem desempenhar um papel na redução do risco de câncer de mama, especialmente entre as mulheres com alta densidade mamográfica20.

Até o momento, devido às dificuldades em explicar o exato mecanismo de ação dos carotenoides na carcinogênese, sugere-se aumentar o consumo de frutas e hortaliças, como meio de quimioprevenção4.

 

Isoflavonas

A soja, um alimento com alta concentração de isoflavona, está sendo relacionada à redução do risco de câncer de mama, osteoporose, deficiência cognitiva e redução dos sintomas da menopausa21.

As isoflavonas podem inibir a produção do oxigênio reativo, apresentando-se como antioxidante. Essa capacidade foi relacionada à presença de hidroxilas em sua estrutura química22.

Kang e col.23 estudaram a relação do consumo de isoflavonas e a recorrência de câncer de mama e óbito em mulheres com diagnóstico confirmado em estágio inicial ou local avançado, as quais foram submetidas à cirurgia e receberam terapia endócrina coadjuvante. O seguimento para as pacientes foi de 5,1 anos. Entre as pacientes pré-menopausadas, a taxa de mortalidade geral (30,6%) não esteve relacionada à ingestão de isoflavonas de soja (RR = 1,05, IC 95% 0,78-1,71 para o quartil mais alto [> 42,3 mg/dia] versus o menor quartil[<15,2 mg/dia]). Em relação as pacientes na pós-menopausa, o risco de recorrência de câncer de mama em pacientes no quartil de maior ingestão de soja foi significativamente reduzida quando comparado ao menor quartil (RR = 0,67, IC 95% 0,54-0,85, p de tendência = 0,02). Associações inversas foram observadas em pacientes com receptor positivo de estrogênio e progesterona e aquelas que receberam terapia com anastrozol. Alta ingestão de isoflavonas de soja foi associada ao menor risco de recorrência de câncer de mama em pacientes na pós-menopausa com receptores positivos para estrógeno e progesterona.

Um estudo multicêntrico, aleatório, duplamente encoberto, realizado no período de 24 meses, avaliou os efeitos da suplementação diária com 80 ou 120 mg de isoflavona de soja mais cálcio e vitamina D em 403 mulheres pós-menopausadas. As pacientes do estudo foram examinadas, anualmente, através da densidade mineral óssea (DMO), conteúdo mineral ósseo (BMC) e marcadores bioquímicos do metabolismo ósseo. Pacientes que receberam suplemento diário de 120 mg de isoflavonas de soja tiveram redução estatística e significativamente menor na DMO de corpo inteiro do que o grupo placebo, ambos em 1 ano (p < 0,03) e em 2 anos (p < 0,05) de tratamento. Quando comparado ao placebo, a suplementação de isoflavonas de soja não teve efeito sobre as mudanças na densidade mineral óssea regional, BMC, os escores T ou marcadores bioquímicos do metabolismo ósseo. A suplementação diária com 120 mg de isoflavonas de soja reduziu a perda óssea em todo o organismo24.

Agosta, Atlante e Benvenuti25 analisaram mulheres menopausadas em estudo multicêntrico, aleatório com a utilização de E (isoflavona 60 mg + lactobacillus sporogenes + cálcio e vitamina D3- Estromineral, Rottapharm Madaus) versus ES (extrato de casca de magnólia - Magnolia schiedeana + Estromineral), um comprimido a noite por um ano. Entraram no estudo 634 mulheres (300 com E e 334 com a ES), com idade média de 53,1 anos e índice de massa corpórea (IMC) 25,2 kg/m2. Ambos os tratamentos reduziram significativamente os sintomas da linha de base. E e ES mostraram eficácia semelhante no controle do rubor, suores noturnos, palpitações e secura vaginal. ES foi mais ativo na insônia, irritabilidade, ansiedade, humor depressivo, astenia e perda da libido. O bem estar da mulher e o julgamento final do médico foram positivos em 70% em ambos os grupos. Associou-se o uso de isoflavona a melhora significativa dos sintomas da menopausa.

 

Linhaça

O óleo de linhaça, rico em ácido graxo ômega-3, detém propriedades anti-inflamatórias, anti-histamínicas e suposta ação anticancerígena. Determinada ação encontra-se no fato da linhaça possuir, em sua composição, a substância lignina5. O consumo de linhaça correlaciona-se, concomitantemente, a diminuição dos níveis séricos dos lipídeos, fator importante na prevenção de doenças cardiovasculares26.

Trinta homens com níveis séricos de colesterol total de 180-240 mg/dL foram divididos aleatoriamente em três grupos, sendo que dois grupos receberam cápsulas de linhaça (100 mg/dia) e um grupo recebeu placebo por 12 semanas. O grupo que recebeu 100 mg de linhaça reduziu significativamente a proporção de lipoproteínas de baixa densidade / colesterol da lipoproteína de alta densidade na linha de base (p < 0,05) e na semana 12 (p < 0,05). Observou-se,também, diminuição significativa dos níveis de transaminase glutâmico pirúvica e gama-glutamil transpeptidase em relação aos níveis basais (p < 0,01), assim como o nível sérico de gama-glutamil transpeptidase em relação ao grupo tratado com placebo (p < 0,05). Sugere-se que a administração diária de 100 mg de linhaça pode ser eficaz na redução do nível sérico de colesterol e o risco de doenças hepáticas em homens hipercolesterolêmicos27.

Sessenta e dois pacientes, com idade variando de 44 a 75 anos, foram selecionados de maneira aleatória, com estudo lipêmico prévio onde o LDL-C se encontrava entre 130-200mg/dL e o nível de triglicerideos menor que 600mg/dL. Excluíram pacientes com diabetes, níveis de TSH < 0,4 ou > 10,0 µg/dL, transaminases hepáticas superiores 2,5 vezes o limite superior da normalidade, creatinina > 2,0 mg/dL, uso de medicamentos hipolipomiantes e terapia de reposição hormonal. Administrou-se 40 g de linhaça em um grupo e em outro, o correspondente a farelo de trigo, por 10 semanas, associado à uma dieta hipolipídica e hipocalórica. Mensuraram-se os níveis séricos de colesterol em jejum e resistência a insulina na semana 0, 5 e 10. A linhaça foi bem tolerada pelos pacientes. Comparado ao trigo, a linhaça reduziu significativamente os níveis de LDL-C nas primeiras 5 semanas (-13%, p < 0,005), mas não na décima semana (-7%, p = 0.07). O farelo de linhaça reduziu a resistência à insulina (p = 0,03) comparada com o farelo de trigo em 10 semanas28.

Hasler5 prediz que o consumo de 10 g diárias de linhaça gera alterações hormonais associadas com a redução do risco de câncer de mama.

 

Ácidos graxos

Os ácidos graxos ômega-3 e ômega-6 são encontrados no reino vegetal, em óleo de peixe de água fria. Lipídeos essenciais ao crescimento e desenvolvimento do organismo, estão presentes em uma gama de dietas comprovadamente redutoras do risco de doenças cardiovasculares29,30.

Estudo avaliou a administração de 300 mg de ômega-3 a oito voluntários idosos, com idade superior a 60 anos, com queixas subjetivas de memória. Utilizou-se os testes de Pesquisa com Drogas Cognitivas. O tratamento com ômega-3 não foi efetivo quanto à capacidade de memória rápida, contudo, teve uma associação positiva significativa quanto à memória tardia (p = 0,041), resultando em aumento de 42% na capacidade de recordar as palavras. Tem-se a suplementação de ômega-3 como efeito favorável sobre a memória em indivíduos com queixas subjetivas de memória, podendo servir como uma alternativa segura à fosfatidilserina extraído do córtex bovino31.

Em ensaio clínico, 75 pacientes em hemodiálise foram divididos em grupo A (n = 37), o qual recebeu 3 g de ácido graxo ômega-3 e o grupo B, controle (n = 38). Antes do período de tratamento, os dois grupos foram avaliados quanto aos níveis séricos de malondialdeído, glutationa peroxidase e superóxido dismutase. Nos pacientes do grupo A, os fatores antioxidantes, incluindo a glutationa peroxidase e superóxido dismutase aumentaram significativamente após dois meses (p = 0,02, p = 0,02, respectivamente), porém, não houve mudanças significativas no grupo B para estes marcadores. Níveis de malondialdeído foram significativamente reduzidos após o período do estudo apenas no grupo A (p = 0,007). Associou-se a suplementação com ácidos graxos ômega-3 em melhor estado de antioxidação em pacientes em hemodiálise32.

Segundo Hasler5, as pesquisas mais recentes evidenciam que o consumo diário de 35 g de peixe pode reduzir o risco de morte por infarto miocárdico não fatal.

A American Heart Association passou a recomendar o consumo de uma a duas porções de peixe por semana33.

 

Selênio

O selênio é um micronutriente presente em alimentos como castanha do Pará, cereais, grãos, vegetais e pescados, sendo a dose diária recomendada de 75 μg, para homens e 60 μg para mulheres, o que seria necessário para manter a concentração plasmática em torno de 95 μg/L, maximizando, desta forma, a atividade antioxidante da enzima, glutationa peroxidase34.

Estudo aleatório foi realizado com 37 mulheres com obesidade mórbida. As participantes consumiram 290 mg de selênio/dia, durante 8 semanas. Os níveis séricos de selênio, da atividade eritrocitária do gene da glutationa peroxidase e níveis de lesões no DNA foram mensurados no início do estudo e em 8 semanas. Os resultados foram comparados com genótipos. As frequências genotípicas foram 0,487, 0,378 e 0,135 para a Pro/Pro (genótipo selvagem), Pro/Leu, e Leu/Leu, respectivamente. No início do estudo, 100% dos sujeitos estavam com deficiência de selênio, e após a suplementação, houve melhora no nível sérico do selênio (p < 0,001 para Pro/Pro e Pro/Leu, p < 0,05 para Leu/Leu), eritrócitos Se (p = 0,001 para a Pro/Pro e Pro/atividade Leu, p < 0,05 para Leu/Leu) e atividade GPx (p = 0,005 para o Pro/Pro, p < 0,001 para o Pro/Leu, p < 0,001 para Leu/Leu). Além disso, o grupo Pro/Pro apresentou diminuição na lesão ao DNA, depois do consumo de castanha do Pará em comparação com os valores basais (p < 0,005), e os níveis foram maiores nos indivíduos Leu/Leu em comparação com aqueles com o genótipo do tipo selvagem (p < 0,05 ), evidenciando que a ingesta de selênio aumenta a atividade da GPx em mulheres obesas, independentemente da GPx1 polimorfismo Pro198Leu35.

O selênio pode atuar como agente estimulante do sistema imunológico, aumentando o nível de imunoglobulinas séricas. Em se tratando de sistema hormonal, a substância é de suma importância ao metabolismo das glândulas tireoides, uma vez que as enzimas iodotironina desiodinases são selenoproteínas34.

 

CONCLUSÃO

 

A sociedade moderna mostra-se cada vez mais complexa, com intensas modificações nos padrões de morbimortalidade e com inúmeros fatores que estão afetando a qualidade de vida. A mortalidade da população idosa, devido a acidentes cardiovasculares, câncer, acidente vascular encefálico, aterosclerose, doenças hepáticas podem ser minimizada através de compostos bioativos e substâncias presentes em determinados alimentos, os chamados alimentos funcionais9.

O envelhecimento populacional brasileiro vem ocorrendo em grandes proporções, promovendo consequências político-sociais, culturais e epidemiológicas.

O papel dos profissionais que militam na área gerontológica não se limita apenas às pesquisas, mas também, a de educação em saúde, ajudando o idoso a entender as qualidades dos alimentos funcionais no seu cotidiano, bem como, o acesso a informações dos efeitos benéficos desses alimentos, conferindo maior importância à alimentação saudável.

O chamado à sociedade, assim, faz-se na busca de uma sobrevida maior com qualidade de vida, tornando os anos vividos em idades cronológicas avançadas, plenos, dignos e de expressivo significado.

 

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1. Médico Residente em Clínica Médica da Universidade Federal do Ceará, Campus Cariri. Fortaleza, CE, Brasil

2. Doutora em Ciências Médicas. Preceptora Efetiva do Programa de Residência Médica da Universidade Federal do Ceará, Campus Cariri. Fortaleza, CE, Brasil

 

Apresentado em 24 de março de 2011

Aceito para publicação em 03 de agosto de 2011

Conflitos de interesse: Nenhum

 

Endereço para correspondência:

Dr. Igor Marcelo Castro e Silva

Setor de Residência Médica – UFC/Cariri

Rua Divino Salvador, 284 – Rosário

63180-000 Barbalha, CE.

Fones: (88) 3312-5035 - (88) 3312-5035

E-mail: igormarcelo23@hotmail.com

 

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